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17 maio 2021

Circo dos horrores: autora paraense vence concurso e tem conto selecionado

Beatriz Chaves Messias vence concurso literário e tem conto selecionado para livro 


Obra conta com participação de diversos autores nacionais. Editora realiza financiamento coletivo para que livro tenha uma versão física. 


A estudante de Letras da Universidade Federal do Pará e escritora de Belém (PA), Beatriz Chaves Messias, ou simplesmente Bia Chaves, foi uma entre os vencedores do concurso literário “Circo dos Horrores” promovido pela Psiu Editora, que reúne contos de terror que tem como fundo o ambiente circense. “Foi minha primeira antologia de contos com a Psiu, e a primeira a trabalhar o gênero terror. Fiquei muito feliz com a aprovação e honrada em fazer parte tanto do projeto quanto do grupo dos autores da editora, que tem uma proposta inclusive, jovem e muito pertinente”, comenta. O conto de Beatriz, intitulado “Visão e o espelho”, conta sobre o protagonista Joel, um homem que exerce o ofício de faxineiro num Circo, mas ignora que o lugar esconde um tenebroso segredo. Mas esse é apenas um dentre muitos contos aterrorizantes que integram a antologia. Além de participar de “Circo dos Horrores”, Beatriz também está confirmada em três outros projetos da Psiu, as antologias de contos “3021” e “Além dessa Vida”, e a antologia poética “Simplesmente, Elas”. Também teve crônicas aprovadas em duas antologias poéticas da Editora Pé de Jambo, e uma crônica no projeto literário “Crônicas Paraenses”, organizado pela Professora Jeniffer Yara, numa iniciativa aprovada pela lei Aldir Blanc. E fora os projetos coletivos, a autora também publicou seu primeiro livro solo em 2020, intitulado “Encontros”, pela Editora Caseira, que conta com minicontos ilustrados por quatro artistas paraenses: Ana Lúcia dos Santos Ribeiro, Dávison Queiroz, Gabriel Conceição Sousa e Roberto Moreira Noronha Reinno. E de volta à antologia: “O ambiente do circo tem uma magia encantadora para muitas pessoas e na antologia ‘Circo dos Horrores’ temos a intenção de desconstruir essa relação infantil e lúdica do circo, com situações pavorosas. Escolhi os contos a dedo, apenas os melhores, e esse livro é um pro cheio para os amantes do terror”, comenta Kimberly Trindade, escritora e organizadora da antologia. 


FINANCIAMENTO COLETIVO 

Para que haja uma versão impressa do livro “Circo dos Horrores” a Psiu Editora, em parceria com os autores, estão realizando um financiamento coletivo, também conhecido como vaquinha virtual, com valor de começar a partir de R$ 15. “´É importante que a literatura nacional, jovem e independente seja difundida e valorizada, em especial no gênero terror, ainda muito subestimado atualmente”, finaliza Beatriz. O financiamento coletivo pode receber apoios até o dia 26 de maio de 2021. Para saber mais sobre segue o link: https://www.catarse.me/circodoshorrores

20 janeiro 2021

Resenha - Milênio



Título: Milênio

Autora: Bruna Guerreiro

Onde comprar: Amazon

Sinopse: Fabiana e Cássio conheceram-se vinte anos atrás, em 1999. Fabiana e Cássio estão prestes a se encontrar, em 2019. Dentro de poucos minutos. Pela primeira vez. E este é o pior dia da vida dele. Vinte anos atrás, em silêncio e sem alarde, nascera entre os dois aquele amor indevido. Empurrara a terra sobre si para brotar, forte, impositivo, inevitável. A separação tinha sido necessária, a única coisa certa a fazer para que não se afogassem em mentiras e erros. Podaram-se os galhos. As flores feneceram. Mas as raízes, ocultas, ficaram dormentes sob o chão. Vinte anos depois, a vida e a morte se encontram numa encruzilhada do destino de Cássio e Fabiana. A partir desse momento, como anzóis lançados em águas fundas e turvas, os flashbacks capturam e resgatam as memórias desse sentimento, trazendo tudo à tona outra vez. 

Fabiana e Cassio se conheceram em uma sala de bate-papo na internet, lá em 1999, e da amizade inesperada, surgiu uma paixão avassaladora. E proibida. Cassio era casado, deixando isso claro desde o início, porém, quem comanda o coração, em tempos de apaixonamento, se não nosso próprio desejo em continuar em contato com nossa paixão? Porém, depois de sua separação e longos vinte anos, os dois estão prestes a se encontrar.

A narrativa de Bruna Guerreiro prende o leitor do início ao fim. Além de sua escrita impecável, narra uma história de amor, proibido, mas muito bem desenvolvida e tão bem contada que quase não nos damos conta de se tratar de uma traição. Sim, Cassio se apaixona perdidamente por Fabiana e troca mensagens com ela por um longo período, mesmo estando casado, mesmo amando sua esposa. E esse é um dos pontos da narrativa interessantes de serem refletidos: há possibilidade de amar duas pessoas igualmente? Ou, há possibilidade de amar duas pessoas, de maneira distinta, mas ainda assim ser amor? Se ninguém é perfeito, como lidar com a quebra da moralidade e ética em um relacionamento a dois? É o que a autora nos faz pensar em sua narrativa pra lá de apaixonante e emocionante.

Cassio não deixa de ser o mocinho da trama, pois mesmo traindo a confiança de uma relação monogâmica como a que tinha, tenta não cair na tentação do contato físico com Fabiana, pois sabe que, a partir disso, a história entre dois já seria outra. E é difícil não pensar em como isso pode soar conivente com a traição masculina tão presenciada, desde sempre, mas lembremos que também Fabiana se apaixonou, aceitou a condição e fez escolhas, ponderadas e baseadas pelos seus sentimentos, mas nunca deixando de ter autonomia sobre suas decisões.

Não pensem que foi fácil... Fabiana sempre foi muito admirada e respeitada por Cassio, mesmo com muitas inseguranças sobre si. A jovem também não deixa de comportar-se de forma a ultrapassar os limites estabelecidos na relação em que se envolveu, mas não se pode negar o quão torturante deve ser apaixonar-se perdidamente por alguém e não poder tê-lo nos braços. E essa dor pode ser sentida pelo leitor, pois há toda uma empatia construída sobre os dois, sobre o que sentem, sobre suas conversas e segredos compartilhados.

Ao longo da trama, em um vai e vem temporal entre 1999 e 2019, vamos conhecendo melhor Cassio e Fabiana, de maneira individual e na relação entre os dois. Não há como negar as semelhanças e a 'química' envolvente entre duas pessoas diferentes, mas que poderiam ser destinados um ao outro, pelo amor. E mesmo em um relacionamento a distância, ocorrido há 20 anos, o entendimento, a compreensão, o afeto é latente. 

Sabemos que os dois irão se (re)encontrar nos anos 2000 (sim, encontrar, pois nunca se conheceram pessoalmente), mas como irá acontecer e de que forma os dois irão se comportar são as dúvidas que pairam na trama. A expectativa para o encontro é angustiante, pois é grandiosa, e confesso que me senti como uma mocinha de 15 anos, com borboletas no estômago, durante as cenas entre os dois. Como escrito anteriormente, é uma trama que prende o leitor, principalmente se você já gostar muito de romances românticos. A vontade de escrever sobre o final é tentadora, mas vou deixar para a imaginação e desejo de quem lê esta resenha em buscar saber mais.

O livro está em formato e-book, disponível na Amazon, e não há erros a serem apontados. Ainda possui uma trilha sonora perfeita em várias partes, para se ouvir e se deleitar junto às cenas lidas (e são músicas perfeitas para os momentos descritos). Recomendo fortemente aos românticos apaixonados ou aos que desejam se aventurar em um romance romântico profundo. Milênio é de tirar o fôlego.

21 outubro 2020

Resenha - Antes de partir desta pra uma melhor

Título: Antes de partir desta pra uma melhor
Original: One Last Thing Before I Go
Autor: Jonathan Tropper
Editora: Arqueiro
Onde comprar: Amazon
Sinopse: Não é preciso ser nenhum gênio para perceber que a vida de Drew Silver é uma sequência de decisões equivocadas. Faz quase uma década que sua banda de rock emplacou uma música, filha única de mãe solteira. Desde então, a banda se separou, sua mulher o largou e Silver tem assistido a vida passar, tocando em casamentos – quando aparece algum – e descontando os cheques cada vez menos frequentes que recebe pelos direitos autorais de seu único sucesso. Silver então descobre que a ex-mulher está prestes a se casar de novo e que a filha adolescente, Casey, está grávida. Para completar, depois de sofrer um derrame que o deixa incapaz de controlar a língua e guardar para si o que pensa, ele precisa de uma cirurgia no coração. Diante desse cenário, o músico fracassado depara com a pergunta decisiva: será que vale a pena salvar uma vida tão mal vivida? Assim, sob o olhar exasperado da família, ele toma a decisão radical de se recusar a fazer a cirurgia e dedicar o pouco tempo que lhe resta a tentar consertar o relacionamento com Casey e aproveitar a vida – mesmo que ela não dure muito. Com diálogos rápidos, irônicos e sagazes, Jonathan Tropper confirma sua habilidade em retratar com humor e perspicácia o lado oculto da família moderna.

Ler Jonathan Tropper novamente foi divertido. O livros do autor, se bem me recordo, geralmente são sobre histórias de homens (héteros e cis) em situações meio fracassadas de vida e que encontram em seus caminhos algum meio de mudança, seja por meio de uma pessoa nova, um acontecimento ou uma epifania, que os fazem perceber que a vida é muito mais do que frustrações e perdas.

Em Antes de partir desta pra uma melhor, temos a história de Silver (ele é comumente chamado pelo sobrenome), divorciado, possui uma filha que não realiza muito contato, uma ex-mulher noiva de um médico renomado. O ex-estrela de rock atualmente toca em aniversários e bar mitzvá, e mora em um hotel famoso em ser moradia de divorciados. Silver se sente sozinho e sem perspectiva de vida, mesmo tendo amigos da mesma idade ao seu redor, todos, porém, possuem algum problema em família.

A narrativa de Silver muda quando sua filha reaparece em sua vida, dizendo estar grávida. Uma jovem de apenas 18 anos já com uma grande responsabilidade em mãos. Silver também descobre ter uma grave complicação no coração que possivelmente o matará a qualquer instante, e decide não se operar para salvar sua própria vida, ele prefere a morte iminente, pois já não vê sentido em mais nada. Enquanto isso, toda a sua família se desespera por sua decisão, e sua filha decide também manter sua gravidez (mesmo a contragosto de todos), em desafio à decisão de seu pai.

Assim se inicia essa trajetória ao mesmo tempo engraçada e dramática na vida do protagonista. Tropper  narra muito bem a mente de um adulto na faixa dos seus 40/50 anos, homem hétero e cis, partindo mesmo dessa perspectiva bem estereotipada do gênero, pois não à toa enfatizo que suas narrativas possuem protagonistas do tipo. Pessoalmente, isto poderia ser um empecilho para gostar da leitura, mas perdoadas as situações e posicionamentos machistas presentes no discurso de alguns personagens (inclusive criticados na trama por meio de outros personagens), a leitura se torna envolvente e gostosa de ler, pois, mesmo tratando sobre morte e dramas familiares, os diálogos entre os personagens, os pensamentos e lembranças de Silver, as situações vividas por ele com a família e amigos são bem engraçadas, possuindo um humor ácido e melodramático que me agrada.

Mesmo se tratando de uma narrativa um tanto densa em alguns aspectos, há reviravoltas durante a trama, mas é como se tivéssemos acompanhando o dia-a-dia de uma família desconjuntada que, no entanto, se amam e se preocupam uns com os outros. Assim, temos uma história de amor, de solidão, de arrependimentos, de compaixão, de descobertas e de reflexões sobre família e do que realmente importa em nossas vidas.

A edição da Arqueiro está impecável, neste novo modelo de edição (possuo outros dois livros do mesmo autor, que seguiam o mesmo modelo de capa e tipo de papel), a capa está belíssima, o papel dura muito mais tempo sem acumular poeira e ficar completamente amarelado, além da tradução e revisão estarem boas. Recomendo a quem se interessar em livros de humor leve, sobre fracassos momentâneos e reflexões de vida.

01 outubro 2020

Resenha - Heróis involuntários

Título: Heróis Involuntários
Autora: Camila Pelegrini
Editora: Delirium
Onde comprar: Delirium Editora Sinopse: Poderia existir moralidade em se preocupar com vidas animais quando tantas humanas padeciam? Poderia existir sentido? Poderia existir um limite para a compaixão que se pode possuir? A resposta talvez não seja óbvia, porque a pergunta tampouco é. Uma jovem, solitária e amedrontada enfermeira. Um jovem, ferido e assustado pássaro. Um encontro que poderia carecer de significado, mas que acabou mudando vidas. A da ave. A de Madison. E a de tantos animais que cruzaram seu caminho a partir de então. Este é o relato de uma mulher que se arriscou ao enxergar o invisível. É a confissão de uma mulher que ousou agir movida por suas próprias convicções. É a história de alguém que teve dúvidas, conquanto humana, mas que seguiu mesmo assim, pois é isso o que mulheres fazem. O drama de alguém que não salvou “apenas” animais. O drama de alguém que salvou vidas.

Heróis Involuntários é de autoria da Camila Pellegrini, a responsável pelo selo editorial da Delirium: Inspirium, um selo destinado a publicações de autoras mulheres e que é, além de necessário no mercado editorial brasileiro, muito significativo, para autoras contemporâneas ou não. A Camila é autora de vários títulos, além de já ter publicado contos em algumas antologias. Conhecer sua escrita, além do seu trabalho belíssimo na editora, foi mais do que especial.

O livro narra a história de uma enfermeira durante a Segunda Guerra Mundial, na Inglaterra, que inicia sua trajetória com os animais após o resgate de um gato ferido. O gatinho perdeu suas duas patas traseiras e a protagonista o encontra em estado grave em meio à cidade caótica. Mesmo assim, ela consegue salvá-lo e pela primeira vez vive uma experiência com bichanos, em que ele se torna seu alento, nesse período tão cruel e turbulento. 

A enfermeira continua salvando homens, indo ao hospital de guerra para cumprir seu dever, porém, seu trabalho também se volta para os animais, cavalos, cachorros, gatos, passarinhos... Todos que encontra no meio do seu caminho e aos arredores de sua casa, no trajeto casa-trabalho, ela tenta salvá-los ou tratá-los, para garantir talvez um sofrimento menor a eles.

Por meio dessa história, conhecemos a dimensão da problemática sobre o tratamento que a humanidade forneceu aos animais. Cachorros, gatos e até morcegos foram utilizados no período histórica da narrativa, como tentativa de os transformarem em armas, destinadas a matar/ferir os inimigos de guerra. E claro, o resultado não seria outro se não uma matança de bichos, principalmente de cachorros, sem nenhum toque de compaixão ou preocupação com a vida desses seres.

A história de Camila e sua enfermeira dedicada aos animais é tocante e sensível, mas não menos angustiante. As cenas de guerra entremeadas com as cenas no lar da protagonista, ela e seu gato, com descrições tão verossímeis no narrar do afeto e carinho que o bichinho nos proporciona, são duas das grandes qualidades que a narrativa de Camila possui. Para quem tem o amor pelos animais, especificamente por gatos, a identificação com a trama é inevitável. E muito bela.

Porém, mesmo com todo o cenário caótico e todas as maldades descritas que possuem um pano de fundo baseado em histórias reais, o final da trama ainda me proporcionou uma sensação de esperança. Não pelo que aconteceu com os bichinhos, mas pela resistência de Madison, nossa enfermeira cheia de bravura, que resistiu, até o último momento da trama, em salvar os animais, e que não desistiu do seu propósito. Pessoas como essas existem na vida real, são elas que nos proporcionam esperança, e ao conhecer a autora, igualmente defensora dos bichanos, tão dedicada aos seus, vi muito dela nessa protagonista, o que não deixou de tirar toda a magia de sua história ficcional, pelo contrário, a leitura possuiu uma simbologia muito mais significativa.

A edição da Delirium está muito boa. Contém pinturas/ilustrações de Flávio Pereira, o fundador da Delirium, autor e ilustrador talentoso, além de estudos sobre a época. A obra possui uma lista de referências estudadas pela autora, que proporciona ao leitor outras leituras sobre o tema. Afora alguns errinhos de revisão textual (pouquíssimos), a edição está belíssima. Recomendo fortemente.

07 setembro 2020

Resenha - Menina do Mato & Outros Poemas Anfíbios

Título: Menina do mato & outros poemas anfíbios
Autora: Josiane Melo
Editora: Pará.grafo
Onde comprar: Pará.grafo Sinopse: Menina do mato e outros poemas anfíbios é exatamente como um livro de poesia deve ser, conciso. Assemelha-se com as águas predominantes na Amazônia, não há nada de cristalino em sua palavra, você pode mergulhar mas desconhece toda espécie de seres e objetos viventes no fundo. Quem transita entre águas tem alguma comunidade ou urbe destino. E a geografia da poeta nos convida para ampliar nossa noção de cidade. O restante do Brasil e do mundo tem mania de imaginar a Amazônia em uma dialética tensa entre florestas e desmatamento, rural e urbano. E se levássemos a sério esses versos, encontrando uma verdade tão óbvia de escondida, não é a cidade e o mundo inteirinho uma floresta calculada?

Ler poesia paraense está sendo mais do que prazeroso. Continuo em meu projeto pessoal de ler mais poemas e mais autores oriundos da minha região, Pará, e a Josiane Melo foi mais uma leitura privilegiada que realizei. Menina do Mato e Outros Poemas Anfíbios é um título bem sugestivo à obra, mas ela não se resume apenas pela menção e referências de elementos paraoaras (relativo ao Pará); os poemas de Josi remetem igualmente a questões de identidade, referências literárias, amor, família e sobre ser mulher.

Há que se enfatizar, também, o prefácio do livro, escrito por Hermes Veras, também escritor, que nos deixa com um gostinho de quero mais ao ler sua apresentação, muito bem escrita e igualmente poética, estando muito bem à altura da produção de Josi.

A poesia do mato, do rio, das ruas enlameadas, das prateleiras de livros a se equilibrarem em habitações de palafitas, sempre passíveis de mergulho, enfim, a poesia anfíbia é um brinquedo de cura!
Hermes de Souza Veras (viu.eitanem)

É um livro curto, mas muito significativo, principalmente pelos elementos regionais presentes: a rede, o mato, o rio, a ancestralidade familiar, o linguajar paraense, os costumes daqui. A leitura e releitura desses breves poemas, grandiosos em sua poética, é mais do que bem-vinda e relembrar do que foi lido também.

Josi também nos apresenta em sua poesia uma mulher escritora apaixonada por livros, por leitura, por literatura em si. Minhas partes preferidas com certeza foram as de referências feministas e de outras produções literárias:
corri para ver o mar
com entusiasmo de escavar
corpos preciosos
da ditadura militar
convivemos com a morte diária
pelas beiradas dos canais
matas
rios
dos becos verticais
fingimos não ver
a morte clandestina
pelos becos da memória
no corpo da menina
Mortalidade clandestina (Para Conceição Evaristo) - Josiane Melo
Além da simpatia e carisma da autora (poder ter um exemplar autografado e um encontro, breve, mas pessoal com o autor, é uma das vantagens de se ler literatura contemporânea de autores locais), a edição da Pará.grafo, editora de Bragança (cidade do Pará, a 212 km de distância da capital) é primorosa. Afora um errinho na segunda orelha do livro, não tenho o que apontar na revisão ou diagramação dele. Recomendo muito a quem gostar do gênero ou quem deseja iniciar na leitura de poemas.

24 agosto 2020

Resenha - Guardiões do Império: O Selo do Sétimo

Título: Guardiões do Império: O Selo do Sétimo (Livro 1)
Autora: Giuliana Murakami
Editora: Empíreo
Sinopse: Yuka Kamimura levava uma vida monótona em uma cidadezinha do Japão, cuidando de sua avó enferma enquanto lidava com problemas não tão casuais da adolescência. Certo dia, porém, quando encurralada perigosamente por estranhos, foi salva por uma equipe de Guardiões Elementares de Magia Transcendental ligados ao enigmático país Império de Minerva.
Levada à força para terras misteriosas, Yuka descobre que seu destino não está relacionado somente a cuidados domésticos e sonhos sem futuro: ela assume um papel importante para as relações políticas daquela nação, um lugar repleto de magia e com uma nova forma de organização social, a qual está permeada de segredos e perigosas intenções por parte de agentes internos e externos. Com seus fiéis seguidores, deverá confrontar os monstros da responsabilidade, da decepção e da infidelidade diante de batalhas que envolverão não somente sua pouca experiência em lutas como também sua capacidade de discernir, em meio a uma teia inesgotável de interesses, a melhor decisão a ser tomada durante todos os seus grandes e inesperados desafios, para além do amor, da dor e da morte.
Onde comprar: Amazon

Guardiões do Império é o livro premiado da autora parceira do blog, Giuliana Murakami. A história é sobre Yuka Kamimura, uma jovem que leva uma vida monótona até ser encurralada por estranhos aparentemente muito perigosos e resgatada por uma pessoa completamente desconhecida.

Yuka cuida de sua avó, muito doente, e trabalha em uma livraria da cidade onde mora, localizada no Japão. Além de sua avó, de companhia só possui seu cachorro. Passando por dificuldades, Yuka ainda sofre bullying na escola, mas é uma jovem muito altruísta e apaixonada por suas leituras. Ao ser confrontada, sozinha, por rapazes que a encurralam em uma rua solitária, desejosos em feri-la, é resgatada por outra pessoa desconhecida, mas que a salva dos seus algozes. Yuka acorda distante de casa, sem saber o que ocorreu e sendo chamada de Imperatriz. 

O Império de Minerva é o universo criado por Murakami e é incrivelmente bem detalhado e construído em sua narrativa. Yuka descobre ser, na verdade, alguém muito importante neste local e todos se voltam para lhe proteger, pois ela sucederá no reino do país. Quem a salvou é um de seus Proctetore, destinados a proteger a vida da Imperatriz, treinados para isso. Os Guardiões Elementares da Magia Transcendental compõem os que comandam os clãs no Império de Minerva. Há todo um sistema de organização neste país e Yuka precisa aprender, rapidamente, sobre tudo isso, além de treinar para sua defesa, pois os ataques para retirar sua vida são constantes desde o primeiro episódio em que foi salva.

Yuka é, além de tímida e desajeitada, muito meiga e ingênua. Há que se enfatizar que todos são encantados pela futura Imperatriz, menos uma de suas Proctetore, Bianca Cappuccino, a qual mantém segredos em relação às suas intenções com a sucessora dos Kamimura. Além dos mistérios envoltos nas trajetórias de alguns personagens principais da trama, temos também muitas cenas bem humoradas e gostosas de ler, enquanto vamos descobrindo, juntamente a Yuka, quase tudo o que envolve o país de Minerva e sua história.

O romance, no entanto, não deixa a desejar em cenas de ação, nos combates contra os espectros, seres perigosos que surgem misteriosamente, em grande quantidade, atacando Yuka e os Guardiões. Eles são especiais, a magia, neste país, existe, e possui toda uma explicação ancestral para ela. O Império ainda abriga várias nacionalidades, o que evidencia uma diversidade nos costumes e hábitos dos personagens; tal fato é evidenciado não somente com a protagonista Yuka, de claras influências japonesas (até no trato com os seus amigos), mas igualmente nos diálogos entre os Guardiões.

A heroína jovem e meiga aprende muito rapidamente que precisa amadurecer em seu posicionamento e sentimentos enquanto Imperatriz. Será por sua própria sobrevivência. Neste primeiro livro já vemos o início desse processo, e o final proporciona aquela vontade de 'quero mais'. A continuação não tem previsão, mas creio eu que os leitores estão mais do que ansiosos para saber as próximas aventuras de Yuka, Bianca e demais personagens da trama.

Por fim, Giuliana Murakami não deixa nada a desejar neste primeiro livro sobre Yuka e sua jornada heroica como imperatriz de Minerva. A edição é da Empíreo, possui algumas 'gralhas' na revisão e diagramação, além da fonte, que poderia ter sido maiorzinha, mesmo aumentando o número de páginas na edição impressa. Fora isso, o livro de Murakami é perfeito para os amantes de fantasia, jovens e adultos, além dos que desejam se aventurar neste gênero. Aguardo ansiosa pela continuação!

10 agosto 2020

Resenha - se deus me chamar não vou

Título: se deus me chamar não vou
Autora: Mariana Salomão Carrara
Editora: Nós

Onde comprar: Amazon - Travessa

Sinopse: Quem vai te contar essa história é uma criança de 11 anos. O olhar fresco e bem humorado de quem ainda vê a vida como mistério está aqui, mas vá por mim: não subestime a solidão de Maria Carmem.
A aprendiz de escritora, enfrentando as angústias da “pior idade do universo”, irá te provar que é possível, sim, que uma menina seja mais solitária do que um velho. Ao menos uma menina que, como ela, cresce e cria suas perguntas entre os objetos de uma “loja de velhos”. Ali elas já nascem antigas, frescas e pesadas, doce feito da mais dura poesia. Maria Carmem nasceu no fim. Sendo assim, do que interessa a idade? Como ela mesma diz, “é possível que um lápis pareça estar novo, mas todo quebrado por dentro”.
É assim, toda quebrada por dentro, que ela desconstrói o mundo diante de si, o mundo adulto que cria regras e não as obedece, o mundo escolar, tudo: “na aula de matemática o problema dizia que um menino e uma menina precisavam calcular quantas laranjas levar ao parque se os convidados meninos comiam tantas e as meninas só mais tantas cada uma. E eu escrevi que não era pra levar nenhuma, que tudo é mentira, ninguém vai junto a parque nenhum nessa vida”. É também assim que ela junta e faz pergunta e faz poesia com tudo o que se ergue e desmorona, os pais, deus, o amor, o corpo, a morte, o difícil que é entender o amor dos outros.
Quando crescer, Maria Carmem vai ser escritora. Mas Maria Carmem já cresceu e já é. Esse livro é uma generosidade de sua poesia. Uma oportunidade de a gente crescer com ela.

Este livro ganhei de presente e confesso que desconhecia completamente a Mariana Salomão Carrara, autora premiada e publicada pela editora Nós, que está fazendo um trabalho lindo com a literatura brasileira e estrangeira no país.

se deus me chamar não vou é uma narrativa contada por uma menina de 11 anos, Maria Carmem, em primeira pessoa, sobre sua rotina com a família, os dois pais, na escola e em outros locais que frequenta. É uma guria sem grandes acontecimentos a serem narrados, ou superpoderes para esbanjar, mas que tem algo a contar. Maria Carmem é extremamente inteligente e sensível, e sua escrita não deixa rastros sobre outra pessoa escrevendo por ela. É realmente uma menina de 11 anos relatando em seu caderno/diário sobre como foi seu dia, o que pensa e o que sente nas diferentes situações que ocorre em sua rotina. Aspirante a escritora, Maria Carmem quer um dia ser premiada e reconhecida por seu trabalho, proporcionando orgulho aos seus pais, a quem mais deseja impressionar.

Seus pais possuem uma loja de artigos para idosos, herdada de seus avós, que faleceram recentemente na narrativa, porém, estão em uma condição de quase falência. Maria, ao ver na televisão um especialista na gerência de lojas do tipo, escreve para essa pessoa em busca de ajuda e ele vai até ela. Assim iniciam-se os acontecimentos principais desta trama. Os pais, com a loja indo bem, parecem mais divertidos, mais apaixonados e mais esquecidos também da presença da filha. Maria se sente sozinha, acha que não haverá companhia pra si no futuro e tem inveja da mãe pela sua destreza e beleza. Há motivações mais sérias e profundas para esse comportamento de Maria. Ao longo da trama, iremos descobrir também que o novo rapaz incluído na família não é meramente alguém que sempre os ajudam.

Maria ainda faz amizades com a vizinha e a amiga dela, mas, aparentemente, todas as suas relações tem uma particularidade interessante pela visão da criança. Ela traz seus pareceres sobre as pessoas com as quais convive a partir do que pensa sobre si, do que projeta nos outros e do que gostaria de ser/ter. É uma narrativa de reflexão sobre si mesmo, perspectivas sobre o mundo e sobre as pessoas, questionamentos sobre quem somos e para onde vamos, ou do que são feitas as coisas. Ou seja, um enredo imperdível de apreciar.

Não gostaria de expor mais sobre a trama, acredito que o diário de Maria Carmem deva ser lido e bem apreciado em suas minúcias e personagens existentes nele. A trama, em si, carrega um quê de melancolia e sensibilidade por meio da voz de uma criança inteligente e sonhadora, com cenas bem-humoradas, justamente pela inocência do eu-lírico, de maneira genuinamente muito bem feita, muito bem escrita. Mariana Salomão com certeza é uma autora que pretendo ler mais, sua escrita é deliciosamente fluida e envolvente. Ler a história de Maria Carmem foi doce e divertido. A edição da Nós está impecável.

27 julho 2020

Resenha - Deus com a língua nos dentes

Título: Deus com a língua nos dentes
Autor: Raimundo Vieira
Editora: Paka-Tatu
Onde comprar: Livraria Paka-Tatu


Ler poemas não é algo costumeiro em minha rotina literária, venho mudando isso aos poucos, até mesmo como uma forma de preparação para possíveis aulas sobre o tema, além de ser um alento esse tipo de leitura, que fala tanto sobre tantas coisas, às vezes em poucas palavras. Descobrir "novas poesias" está sendo leve e muito prazeroso. Em um projeto de iniciar essas leituras e conhecer também autores da minha região, do estado do Pará, tive o prazer de realizar a leitura desse livro, de um professor em que já trabalhei no mesmo colégio, e que possui uma produção incrível.

Deus com a língua nos dentes trata sobre diversos temas, entre críticas sociais, homenagens ao filho, e menções ao rock e outros gostos pessoais, porém, o que mais chama atenção são as referências da área de Letras: entre paródias literárias e alfinetadas linguísticas, a obra de Raimundo Vieira é divertida, mas principalmente questionadora de um status quo acadêmico.

Ora, signo linguístico...
Promova o armistício.
Substantive a ação.
Catacrese a vida.
Significante patético.
Verbalize logo o poético.
Raimundo Vieira

A ironia e o sarcasmo sobre diferentes assuntos é o ponto-chave atraente da obra. Não há 'papas na língua', mas também não há críticas descaradas. Há, sim, uma linguagem subversiva e poética, voltada para apontamentos mais do que necessários relativos a diferentes questões sociais, pessoais e profissionais.

No cubículo do elevador.
No quadrado do quarto.
No ônibus retangular.
Na igreja piramidal.
No círculo universal.
O enquadramento circunscrito da liberdade...
Raimundo Vieira

As referências literárias, não somente no fazer poético do próprio autor, mas explicitamente marcados nele, é outra grata surpresa na obra. Encontrar essas referências, por meio da sua escrita, é se deparar com leituras e memórias literárias já lidas, pertencentes à nossa formação (enquanto profissionais de Letras, e enquanto amantes da Literatura.

Ser literárioDesviar da pedra do caminho.
Pular a terceira margem do rio.
Preservar o olhar oblíquo e dissimulado.
Morder a maçã no escuro.
Deixar flores no cemitério dos vivos.
Não calar o Boca do Inferno.
Expelir o concretismo.
Transfusão e mimetismo.
Transição e transformismo.
Literário e libertário.
Raimundo Vieira

No mais, a edição da editora Paka-Tatu está perfeita, a capa transmite um pouco sobre o que se trata o livro, e sou grata por tê-lo em minha estante. É um livro para ser lido sempre que possível, em dias difíceis ou amenos, por meio dessa poesia em que me encontrei tanto.

20 julho 2020

Resenha - Antologia: Sonhos Literários

Título: Antologia - Sonhos Literários
Autor | Org.: Brenda Rodrigues
Editora: Selo Editorial Independente
Sinopse: "Sonhos Literários" reúne um conjunto de textos compostos por escritores de vários lugares do Brasil. Dentre esses escritores você encontrará iniciantes e também veteranos do ramo literário, que através de suas expressões nos mostram um pouco mais sobre si mesmos.
Cada página está representada por uma pessoa, de algum estado, cidade e idade, e isso te fará enxergar com outra perspectiva sobre diversos temas.

Este foi um dos primeiros livros a qual publiquei algum texto meu. A antologia Sonhos Literários foi organizado por Brenda Rodrigues, autora paulista, integrante do Selo Editorial Independente, destinado à publicação de autores nacionais.
Particularmente, nunca confiei muito em minha escrita, mas em 2018, com tempo livre e várias ideias na cabeça, decidi arriscar em editais de publicação, de editoras menores, mas que fizessem um bom trabalho. O texto inserido nesta coletânea é o 'A certain romance', um pequeno conto de enredo romântico, adaptado de um conto disponível também aqui no blog, confere aqui. O conto foi inspirado em canções de uma das minhas bandas favoritas, Arctic Monkeys, mas não éfoi inspiração necessariamente da música de mesmo título.
O livro possui diferentes gêneros, de poemas a contos, crônicas e relatos, e de autores das diversas localidades do país. As temáticas também variam: entre romance, questões existenciais, memórias, sonhos e até sobre a própria escrita literária. É interessante perceber as diferentes visões e criações que perpassam os escritores, de maneira tão distinta.
Particularmente, os poemas me encantaram muito. Alguns tratando do cotidiano, outros de amores passados, e outros sobre a vida, a existência, o ser:
Luz, câmera e ação
A vida é agora
E é o presente
Abra os olhos, agradeça e desate o nó
Pois, quando olhar para trás
Tudo o que viu já não existe mais
O tempo já o transformou em pó.
Luz, Câmera & Ação; Edson Alves
Porém, outra produção me chamou atenção, o de Camila Muniz, a qual escreveu minicontos(?) imitando os 140 caracteres de um tweet:
Ironia do escritor
É achar que com apenas 140 caracteres se pode fazer poema de humor. Terror. Dor. Ou até amor.
[...]
Vida Dupla
O lápis preto tinha uma ponta de borracha. De um lado escrevia a vida. Do outro apagava a história.
Camila Muniz
A diagramação possui suas particularidades, há uma moldura nos lados das páginas e uma ilustração em todo início de texto. No entanto, a revisão deixou a desejar um pouco. Acredito que, incluo o meu texto nisso (risos nervosos), que a escrita de alguns textos poderia fluir melhor caso alguns desvios fossem corrigidos. Contudo, trata-se de uma das primeiras produções do selo, e acredito que os autores participantes também estavam no começo de suas produções, logo, erros são comuns. Hoje entendo que valorizar a escrita autoral, nacional e independente é mais do que necessária e dar voz a autores/autoras de diferentes regiões do país é também nosso dever enquanto leitores, acadêmicos ou entusiastas na Literatura. Tem espaço para todos e a expressão artística e literária não deve ser relegada apenas a alguns grupos específicos.
Engajei em uma sequência de leitura de livros onde há publicação de textos meus. Este foi o primeiro. Em 2018 publiquei em duas coletâneas. Em 2020 está saindo mais dois. Talvez eu tenha uma ordem específica de publicação? Não sei haha'
Aguardem as próximas resenhas.

08 julho 2020

Resenha - Corolário da Alma

Título: Coletânea Corolário da Alma
Autor | Org.: Vários autores
Editora: Porto de Lenha
Sinopse: Este livro reúne um pequeno centelho da vasta criação corrente de norte a sul do país. Você lerá trechos da contextura em prosa ou verso, dos sessenta e seis autores expressos nas páginas de Corolário da Alma.
Onde comprar: Site Porto de Lenha

Esta coletânea foi a primeira onde publiquei um texto meu. O pequeno conto se intitula "Aquela palavra com 4 letras", de teor romântico e também disponível aqui no blog: confere aqui

A coletânea reúne diferentes gêneros: poemas, contos, crônicas, relatos e minicontos, de diferentes autores pertencentes a várias regiões do país. Novamente, me deparar com as produções de autores independentes e nacionais, desconhecidos, traz boas surpresas e descobertas.

Entre as diferentes temáticas existentes neste livro; várias sobre o amor romântico, algumas sobre descobertas, decepções amorosas, outras sobre lembranças, família e até sobre seres sobrenaturais e contos de suspense (há um pequeno conto sobre vampiros), uma produção me chamou atenção, principalmente pela inspiração indicada no próprio texto, de Eneida de Moraes, escritora paraense (meu local de origem e moradia), do século XX.

[...] Dulce tinha no vento seu companheiro. Ele trazia-lhe cheiros, sabores, alegria, companhia. Seu caminho parecia ficar mais fácil quando o vento a acompanhava. 
E mais uma vez Dulce o vê. Chamava-lhe intimamente de camaleão. Aquele homem camuflava-se. Nada que pudesse ser percebido. Ela não sabia o que era: apenas não se sentia à vontade diante dele. Não sabia como, mas ele representava perigo. [...]

O conto é de Helena Girard e trata sobre Dulce e Arantes, em um episódio de estupro. O tema é, no mínimo, degradante e incômodo de se ler, mas a escrita de Helena e como ela conduz a história, é muito bem feita. O elemento vento, introduzido na narrativa de forma quase que personificada, casa muito bem, do início ao fim na trama, ele se relaciona com Dulce e sua trajetória drástica. A indicação de Eneida ao final me fez curiosa em ler a obra, já que ainda não tive a oportunidade de conhecer o trabalho da autora.

Voltando a tratar sobre o livro no geral, nele foram inseridas ilustrações em todo início de texto, além de ilustrações ao final de alguns deles, relacionados aos temas abordados. A revisão deixou um pouco a desejar, acredito que um trabalho feito por alguém da editora e em conjunto aos autores poderia ter alavancado a qualidade dos textos, mas nada que interfira significativamente na leitura.

01 julho 2020

Entrevista com a autora: Giuliana Murakami


E o blog tem novidades! O Meu Outro Lado fechou parceria com a autora Giuliana Murakami, escritora muito simpática e talentosa a qual vou poder conhecer sua obra muito em breve. Para iniciarmos os trabalhos, que tal conhecer um pouco sobre ela? 

Uma breve apresentação sobre quem é você, o que faz, sua formação, o que te inspira.
Sou paraense, nascida em Belém, neta de avós maternos japoneses (sansei) e pai português. Desde cedo recebi influência do folclore amazônico, do nipônico e adorava ouvir histórias do meu pai em Portugal. Foram essas tradições orais as minhas primeiras inspirações.
Aos poucos, fui desenvolvendo o hábito de leitura e, hoje em dia, sempre comento que minhas inspirações são “Harry Potter” (comecei a escrever, inclusive, por meio de fanfics da saga), independente de minhas opiniões pessoais ainda não totalmente formadas (por necessidade de estudo mesmo) sobre recentes condutas da criadora do universo; “Fronteiras do Universo”, fantasia escrita por Phillip Pullman; Haruki Murakami e seu realismo mágico; e como autores nacionais, Raphael Draccon ( “Dragões de Éter”), Eduardo Sphor (“A Batalha do Apocalipse”) e minha conterrânea, Roberta Spindler, fantasista de mão cheia por quem tenho grande admiração.
Gosto de dizer também que tudo ao meu redor me inspira. O que consumo, o que vejo, o que vivencio, minhas lembranças e sensações que perpassam meus sentidos ao longo da vida. Então, animes e desenhos animados entram na lista, os conflitos da rotina e também os introspectivos, meus estudos acadêmicos e de hobbie, a minha relação com as pessoas, a esquina da minha rua... Não que esses elementos estejam necessariamente presentes no que escrevo de forma latente, mas com certeza estarão implícitos em algum momento.
Sou formada em Direito e trabalho como advogada atuando em causas envolvendo direito tributário, o que me tira um pouco da fantasia e me coloca em situações que envolvem mais números e lógica. Equilíbrio é tudo. XD

Quando iniciou tua paixão pela Literatura?
A literatura como leitura iniciou cedo. Lia livros folclóricos aos quatro/cinco anos, comecei a consumir “Harry Potter”, “Crônicas de Nárnia” e “Alice no País das Maravilhas” talvez com uns oito anos, e vez ou outra fuçava a biblioteca da minha escola em busca de histórias novas.

O que te motiva a escrever?
Principalmente as personagens. Elas surgem em momentos aleatórios e rugem para que suas histórias sejam contadas. É uma motivação interna, de querer narrar.
Hoje em dia, com obra publicada, eu posso dizer que uma outra motivação recorrente é levar aos meus leitores alguma mensagem que considero importante. Não que eu me prenda a levar mensagens em todos os meus textos, mas com certeza ouvir meus leitores é um prazer enorme.
Sou fantasista primordialmente e quando criança escrevia para fugir da minha realidade; na adolescência, era como um acréscimo fantasioso aos meus próprios desejos de aventura; e atualmente, considero que escrever fantasia serve para expressar a realidade em vários prismas. É um escape fantasista, mas que discute a realidade nas entrelinhas de seu contexto imaginário. Isso também me motiva.
Sob o Sino é seu mais novo conto, está disponível na Amazon

Como ocorre teu processo de escrita?
Quando a ideia vem, seu núcleo principal costuma ser personagens e contextos específicos de conflito. A partir destes elementos, começo a criar o esboço da obra, confeccionando fichas das personagens com suas características psicológicas e físicas; estruturo o enredo (se for saga, normalmente já estruturo todos os livros que a compõe) e começo a escrever o primeiro rascunho.

Como ocorre a trajetória de publicação?
Hoje em dia temos vários caminhos. Os que conheço e experimentei são a publicação física por meio da contratação de serviços editoriais, seja uma editora mesmo ou uma empresa que presta esses serviços e, também, a possibilidade de publicar por meio de premiações, que foi como ocorreu a publicação do meu primeiro livro, “Guardiões do Império – O Selo do Sétimo”, que venceu a terceira edição do Prêmio Fox-Empíreo de Literatura.
Outra possibilidade acessível a vários autores é publicar em plataforma digital gratuita como Wattpad, por exemplo ou pela Amazon, na qual você deverá elaborar um ebook (livro digital) compatível com o site. Vários autores seguem por esse caminho hoje em dia.

O que você pensa sobre o mercado editorial brasileiro/paraense atual? É difícil ser autora/escritora no Pará?
O mercado tem sido favorável ao recebimento de autores nacionais nas editoras tradicionais. Atualmente, por conta das redes sociais, é impossível desvincular um autor do seu leitor, o que torna a proximidade entre eles um atrativo mercadológico.
O Norte ainda sente resistência de alguns pontuais focos de mercado no sul e sudeste, onde há maior número de leitores. Ainda assim, estamos cada vez mais sendo lidos, não só por conta da facilidade em divulgar materiais pelas mídias como também pelo pioneirismo de alguns autores de nossa terra em editoras tradicionais. Posso dar o exemplo da própria Roberta Spindler, que é uma autora publicada pela Cia das Letras. Casos como esse servem de inspiração para todos nós, autores paraenses e também nortistas.

Quais as suas paixões além da Literatura?
A arte sempre me instiga. Gosto de teatro, principalmente o regional (fã de carteirinha do Teatro de Apartamento), de cinema (embora não me considere cinéfila), de música (sou muito eclética, ouço desde reggeaton a Bethoveen), de desenho animado e animes (a propósito talvez uma das minhas fontes de inspirações mais frequentes depois da literatura).
Gosto também de museus e amo estudar sobre culturas e mitologias de países diferentes (outra fonte de inspiração). Ouvir pessoas também é algo que gosto muito, principalmente os mais velhos, que têm ótimas histórias sobre suas vidas e imaginários.
Por fim, posso dizer que gosto de caminhar também. Às vezes para observar paisagens, pessoas e animais, às vezes só para ter algo mecânico a se fazer enquanto fico viajando nas minhas ideias. XD

A imagem pode conter: desenho
Um das obras da Giuliana é Guardiões do Império, lançado pela Empíreo.

Tem dicas para uma boa escrita e para pessoas que pretendem escrever seu próprio livro?
Costumo dizer que não existe escrita perfeita. Todos temos um estilo, fruto de nossas vivências (ou escrevivências, termo muito bem colocado pela nossa escritora Conceição Evatisto), então não se cobre sobre ser bom ou ruim, seus leitores serão alcançados.
Isso não significa que devemos ser relapsos XD. Primeira dica que dou é: tenha calma. Sua história não fugirá, está coladinha com você, só é preciso lapidá-la para que seja compreensível, afinal, do que adianta escrever uma obra para publicação se não consegue comunicar o que está ocorrendo naquele livro? A não ser que escreva só para si mesmo, o cuidado com revisão é imprescindível, principalmente no que se refere à coesão e coerência; serviços de revisão gramatical podem, inclusive, ser terceirizados.
Segunda dica é: sejamos responsáveis socialmente. Vivemos em um mundo em que o acesso à informação alcança a quase todos e você ser um escritorx que lance uma obra incitando racismo, machismo, violência, LGBTQIA+fobia, sexismo, misoginia ou outros temas sensíveis sem qualquer propósito literário, você está sendo irresponsável. Não existe liberdade de expressão sem limites.
Terceira dica: não inicie sem saber o fim. Importante que você saiba conduzir ao menos o esqueleto da obra, pois sabemos que, às vezes, as personagens pedem uma modificação aqui ou acolá, mas tenha firmeza no que pretende escrever, não comece uma obra sem estruturá-la e quando falo de estrutura, não necessariamente digo para que saiba o que acontecerá em toooodos os capítulos. Saiba, ao menos, quais os elementos básicos inerentes ao seu gênero/tipo de texto. Você precisa conhecer suas personagens e traçá-las de uma forma que seja crível e lógica; você precisa conhecer os conflitos que vai trabalhar no livro; e, por fim, precisa saber como terminará a história. Pode até ser que mude o final no decorrer da narrativa, mas iniciá-la sem ter ideia de terminá-la pode te levar a um bloqueio criativo.
Quarta e última dica é para que você tenha seu próprio ritmo e seja gentil consigo mesmo. Não gosto de dizer que você precisa de uma rotina, de uma disciplina etc, não conheço sua vida, não sei quantas horas de trabalho externo você faz, ou se possui alguns desafios do cotidiano. Te dizer para ser assim ou assado pode só gerar uma crise de ansiedade em você. Se você acha que consegue escrever X palavras por dia, tudo bem, faça, é bom trabalhar com metas quando não se tem problemas com elas. Mas se você tiver uma personalidade ou uma vida agitada demais para elas, não se cobre.
Há vantagens e desvantagens sobre ter metas ou ser mais flexível. Vou dizer apenas que talvez ser disciplinado demais possa te engessar, tornar o texto sem alma (pode, mas não necessariamente isso ocorrerá) e a desvantagem de não ter disciplina é que você pode acabar perdendo o ritmo textual, então aconselho a sempre ler o capítulo anterior ou trechos anteriores para não tornar a experiência uma montanha-russa desenfreada em loops constantes.
Ao invés de dizer que você precisa escrever tantas palavras por dia em tantos dias da semana, o que vou lhe aconselhar é que tenha foco. Você precisa terminar aquela obra que se propôs a trazer ao mundo, não importa o tempo que precise. Você precisa ter foco de iniciar e começar uma história com estrutura e personagens bem caracterizados. É isso. Não se cobre, não se compare com outros autorxs a não ser que a comparação seja para somar e não cortar você. Faça você seu próprio ritmo, mas sempre visando aquele ponto final porque lhe garanto uma coisa: seu ponto final é apenas o ponto de partida para o leitor, e é uma sensação indescritível poder ouvi-los falar sobre sua obra.

Incrível! É um prazer conhecer um pouco mais sobre ela e suas obras. Acompanhe a autora em suas redes sociais: Facebook | Instagram | Twitter. Suas produções e mais informações podem ser encontradas no site oficial: https://giulianamurakami.com/

01 agosto 2018

Resenha - A Guerra dos FAE - Nova Ordem Mundial

Título: Nova Ordem Mundial - Guerra dos FAE #4
Original: New Word Order
Autor (a): Elle Casey
Editora: Geração Editorial
Sinopse: Quarto e último capítulo de uma série surpreendente de aventura e magia e agora? Como enfrentar a necessidade de sacrifícios de uma Nova Ordem Mundial para os Fae?
Jayne e seus amigos estão numa encruzilhada, tendo que enfrentar a batalha final que decidirá a formação da nova ordem exigida pelo mundo sempre em guerra entre os Fae da Luz e da Escuridão.
Jayne se encontra numa encruzilhada não somente no terreno da estratégia e da magia, mas também do coração, que está dividido entre seu anjo da guarda e seu amigo elemental, Chase e Spike. Acontecimentos inesperados darão um toque surpreendente de romantismo e lágrimas neste último volume da Guerra dos Fae.
Surpresas após surpresas são mantidas até o final, que será ainda mais surpreendente para os fãs da insolente e destemida Jayne. E estão de volta o bom humor com o duende Tim e suas palhaçadas, bem como todos os perigos de um mundo onde de cada personagem ou situação pode brotar uma revelação inesperada, exigindo novas lutas e difíceis adaptações.
O mundo de aventuras de Elle Casey em A Guerra dos Fae tem aqui um encerramento apoteótico e brilhante.

Último e quarto livro da série de fantasia de Elle Casey e eu não podia mais esperar a leitura desse desfecho. Acompanhei, desde a época de parceria com a Geração Editorial, o lançamento aqui no Brasil de seus livros e me encantei logo de primeira com o universo e personagens criados pela autora.

Jayne, nossa protagonista, continua uma boca suja, afrontosa, mas agora dividida, sentimentalmente, por dois rapazes que chamaram sua atenção e ganharam sua afeição. Um demônio, misterioso, calado, mas que fora pixielizado por seu amigo duente Tim, e o outro, súcubo, sexy e descabido em suas ações, mas que não estava à procura de nada sério com ninguém, devido a sua natureza. Porém, essa trama é apenas a pontinha de todo o drama que o quarto livro da série perpassa.

Os fae da luz e trevas continuam em seu embate, mas agora surgem orcs, seres de outro mundo que não do Aqui e Agora, os quais não deveriam estar em terreno humano, e agora, Jayne e seus amigos precisam combatê-lo, além de desvendar inúmeros segredos que rondam o complexo dos fae e o sumiço de dois amigos na última batalha travada que esteve com eles.

Elle Casey mescla, novamente, drama, aventura, romance e muito humor. É preciso enfatizar a amizade de Jayne e Tim, seu minúsculo duende que vive em seu ombro após ter suas asas cortadas. O humor ácido nas conversas entre os dois quebra toda a tensão que os personagens vivem sob os mistérios de suas rotinas como fae. Novamente, o universo criado pela autora deslumbra, por conta dos detalhes referentes aos seres sobrenaturais, às conversas, às histórias de origem de cada um. Até esquecemos que estamos lendo sobre crianças, principalmente quando pensamos em Jayne, tão amadurecida em seus poderes nesse último livro.
Porém, um dos fatos negativos sobre o desfecho que a autora escreveu foi a falta de ação ao final. Não sei se porque estou acostumada com séries que finalizam após uma grande batalha/guerra entre grupos antagônicos para depois obterem seu final feliz, mas senti muito a falta de cenas de ação nesse último livro. Muito se esclareceu, mas algumas pontas soltas permaneceram no ar. Acho que o quarto não deveria, ainda, ser o final da série, mas um quinto livro, com muito mais adrenalina e tensão entre os personagens, juntamente a alguns questionamentos esclarecidos, poderia ser um desfecho perfeito para a saga.

Outro ponto é uma ação importante, mas um tanto questionável, para o desfecho da protagonista. Foi criticada por alguns leitores, mas talvez não tenha sido intenção da autora trazer essa visão antiquada para sua trama, se levarmos em consideração a explicação que traz na obra. As mudanças ao final do enredo foram um tanto bruscas, principalmente por Jayne ter sido construída como alguém tão teimosa e decidida em suas opiniões.

No entanto, a escrita da autora cativa, bem como sua personagem, mesmo que muito infantil em algumas partes, é preciso discernir que ainda se trata de uma criança/adolescente e que tais ações são características dela mesmo. 
A edição da Geração está muito boa, as capas são lindas, mas, infelizmente, a série ainda contém mais 4 volumes lançados no exterior, mas para os brasileiros, essa foi a última lançada pela editora.

Leia a resenha dos três outros livros da série: #1 - #2 - #3
Alguns e-book's da série estão grátis na Amazon pelo Kindle Unlimited, adquira pelos links: #1 - #2 - #3 - #4

27 julho 2018

Tag dos 50%

Desde maio desse ano sem escrever nada para o blog, me culpo pela falta de tempo, mas principalmente pela falta de conteúdo a ser postado. Fiquei meses sem séries, livros e filmes e, apenas agora, em meados de junho-julho, pude retornar para alguns dos meus lazeres que gosto tanto de escrever sobre. Porém, nesse meio tempo, surgiu a oportunidade de submeter um conto (já publicado aqui no blog) para uma antologia de escritos de autores, intitulada Antologia Sonhos Literários, realizada pela Brenda Rodrigues, e, meu conto foi aceito (yey!), ainda por esses meses teremos a publicação em e-book e formato impresso, quem quiser ler minha entrevista para o projeto, acessa aqui. Também terei mais novidades quanto a escritos publicados nos próximos meses, aguardem.

Por enquanto, vamos atualizar o blog respondendo a uma tag bem bacana? Vi essa tag no blog da Mia e resolvi responder mesmo sem ter lido muito esse ano (fora as leituras do mestrado).
1. O melhor livro que você leu até agora, em 2018.
No Seu Pescoço, da Chimamanda Ngozi Adichie, sem dúvida. As histórias permanecem na minha cabeça e a escrita da autora é marcante.

2. A melhor continuação que você leu até agora, em 2018.
Quase não leio continuações durante esse ano, mas esse mês iniciei e já estou na metade de Guerra dos FAE - Nova Ordem Mundialhttps://monautrecote.blogspot.com/2015/10/resenha-guerra-dos-fae-luz-e-trevas.html, estou gostando muito. Mesmo a escrita já não mais cativando tanto, o mundo criado pela Elle Casey é incrível.

3. Algum lançamento do primeiro semestre que você ainda não leu, mas quer muito.
Quero muito ler algo da Djamila Ribeiro e o livro Quem Tem Medo do Feminismo Negro é um lançamento desse primeiro semestre que ainda não tive a oportunidade de adquirir e ler.

4. O livro mais aguardado do segundo semestre.
Acho que o livro em que meu conto sairá publicado. haha' Fora ele, não acompanho muito os lançamentos, mas a Martin Claret está lançando várias novas edições de clássicos belíssimas que gostaria de adquirir.

5. O livro que mais te decepcionou esse ano.
Noites Brancas de Dostoiévski, com certeza. A história parece ter sido escrita nos primeiros anos de vivência literária do autor e não marca em nada, não é uma grande história, como eu esperava desse autor.

6. O livro que mais te surpreendeu este ano.
O Caderno Rosa de Lori Lamby da Hilda Hilst é bem intenso para quem não está acostumado a esse tipo de gênero.

7. Novo autor favorito (que lançou seu primeiro livro neste semestre, ou que você conheceu recentemente).
Conceição Evaristo ganhou meu coração de leitora com Olhos D'Água. Escrita crua, mas poética. Com certeza quero ler outros títulos dela.

8. A sua quedinha por personagem fictício mais recente.
Não tive nenhuma quedinha em nenhum personagem dos livros que li até o momento. Mas em Guerra dos FAE, o Chase, demônio enamorado da protagonista, Jayne, é um belo partido pra nutrir uma paixonite hein.

9. Seu personagem favorito mais recente.
Dos livros que li esse ano, Aurélia Camargo, em Senhora, de José de Alencar, com certeza seria meu personagem favorito. Personagem nem um pouco característica do século XIX, ela subverte algumas imagens que temos das mulheres da época.

10. Um livro que te fez chorar neste primeiro semestre.
Olhos D'Água, com certeza. Tramas tristes, mas bem reais. Me vi em algumas situações descritas pela autora, em meu cotidiano nas áreas periféricas de Belém.

11. Um livro que te deixou feliz neste primeiro semestre.
Senhora é um romance romântico com aquele final de comédia romântica que sempre me deixa feliz.

12. Melhor adaptação cinematográfica de um livro que você assistiu até agora, em 2018. 
Não lembro das adaptações que assisti esse ano (?), mas atualmente acompanho The Handmaid's Tale, que teve sua primeira temporada adaptada e (dizem) que, mesmo diferente, a série e o livro são muito bons (preciso ler a obra ainda).

13. Sua resenha favorita deste primeiro semestre (escrita ou em vídeo).
Considerando que escrevi apenas duas resenhas esse ano (que vergonha), considero as duas minhas favoritas haushuas'

14. O livro mais bonito que você comprou ou ganhou este ano.
Acho LINDA a capa de No Seu Pescoço, mas amo as das edições da Biblioteca Azul, de Valter Hugo Mãe. Comprei, na Feria Pan-Amazônica do Livro desse ano, durante o encontro com o autor aqui (muito simpático e engraçado), Apocalipse dos Trabalhadores, que tem uma capa belíssima.

15. Quais livros você precisa ou quer muito ler até o final do ano?
Quero muito ler os livros que adquiri do Valter Hugo Mãe, assim como O Que é Lugar de Fala? da Djamila Ribeiro e Americanah, da Chimamanda Ngozi Adichie.

02 maio 2018

Resenha - No seu pescoço

Nome: No seu pescoço
Original: The Thing Around Your Neck
Autor (a): Chimamanda Ngozi Adichie
Editora: Cia das Letras
Sinopse: A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie vem conquistando um público cada vez maior, tanto no Brasil como fora dele. Em 2007, seu romance Meio sol amarelo venceu o National Book Critics Circle Award e o Orange Prize de ficção, mas foi com o romance seguinte, Americanah, que ela atingiu o volume de leitores que a alavancou para o topo das listas de mais vendidos dos Estados Unidos, onde vive atualmente. Ao trabalho de ficcionista, somou-se a expressiva e incontornável militância da autora em favor da igualdade de gêneros e raça. Agora é a vez de os leitores brasileiros conhecerem a face de contista dessa grande autora já consagrada pelas formas do romance e do ensaio. Publicado em inglês em 2009, No seu pescoço contém todos os elementos que fazem de Adichie uma das principais escritoras contemporâneas. Nos doze contos que compõem o volume, encontramos a sensibilidade da autora voltada para a temática da imigração, da desigualdade racial, dos conflitos religiosos e das relações familiares. Combinando técnicas da narrativa convencional com experimentalismo, como no conto que dá nome ao livro — escrito em segunda pessoa —, Adichie parte da perspectiva do indivíduo para atingir o universal que há em cada um de nós e, com isso, proporciona a seus leitores a experiência da empatia, bem escassa em nossos tempos.

No seu pescoço foi o segundo livro de Chimamanda Ngozi Adichie que tive o prazer de ler. Diferente de Hibisco Roxo, o presente livro é um compilado de contos da autora, ambientados em diferentes espaços, tratando sobre diferentes personagens, com histórias bem diversas uma da outra.

A escrita da autora não deixa a desejar, novamente. De descrições relevantes, em primeira ou terceira pessoa, a autora mescla uma escrita simples, clara, com passagens muito bem construídas, poéticas e imagéticas, algumas vezes. Mas o que mais chama atenção em suas narrativas são seus personagens e as tramas que os envolvem. Sempre muito marcantes, muito bem construídas em torno da cultura nigeriana, Chimamanda retrata, sob diferentes nuances, perspectivas sobre a vida de mulheres que permanecem em seus locais de origem ou migram para os Estados Unidos, um percurso comum nos casamentos arranjados narrados pela autora.

Os conflitos são muitos. Entre família, religião, cultura, identidade. A autora também destina seus escritos para retratar conflitos políticos, os quais modificam toda uma vida descrita em alguns dos seus contos, envolvendo mortes, desesperança, mudanças de perspectivas sobre a vida.
Descrever tão profundamente, em poucas páginas, sobre aquelas vidas e histórias, e comover seu leitor com elas, não é para qualquer um. Chimamanda consegue imprimir sua identidade como autora porta-voz de uma nação, de uma cultura, politicamente voltada para determinadas parcelas da população, mas suas histórias podem, e muito, nos fornecer um processo de identificação com suas histórias, em questões mais amplas, universais, inerentes a todos nós.

Em No seu pescoço é evidente, em quase todos os finais, o “deixar para trás”, o “dar de costas” das protagonistas perante uma situação que elas não suportavam mais. Interessante esse movimento, de quebra de um status quo, aparentemente sem saída, mas que o abandono torna-se o único modo de escape da situação. Isso ocorre em tramas com dramas familiares, principalmente.
Não me detive em descrever e opinar sobre cada conto, mas espero ter passado, pelo menos um pouco, das impressões tão boas que tive ao ler essa obra. Chimamanda Ngozi com certeza ganhou um espaço em minha estante e em meu coração de leitora, pelas suas tramas e por seus personagens tão marcantes.

04 abril 2018

Resenha - Olhos D'água

Nome: Olhos D'água
Autor (a): Conceição Evaristo
Editora: Pallas/FBN
Sinopse: Em "Olhos d’água" Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem.
Sem sentimentalismos, mas sempre incorporando a tessitura poética à ficção, seus contos apresentam uma significativa galeria de mulheres: Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida, a menina Zaíta. Ou serão todas a mesma mulher, captada e recriada no caleidoscópio da literatura em variados instantâneos da vida? Elas diferem em idade e em conjunturas de experiências, mas compartilham da mesma vida de ferro, equilibrando-se na “frágil vara” que, lemos no conto “O Cooper de Cida”, é a “corda bamba do tempo”.
Em "Olhos d’água" estão presentes mães, muitas mães. E também filhas, avós, amantes, homens e mulheres – todos evocados em seus vínculos e dilemas sociais, sexuais, existenciais, numa pluralidade e vulnerabilidade que constituem a humana condição. Sem quaisquer idealizações, são aqui recriadas com firmeza e talento as duras condições enfrentadas pela comunidade afro-brasileira.
Olhos D’água é datado de 2003 e foi escrito por Conceição Evaristo, autora que tomei conhecimento apenas no último ano. O livro de contos carrega uma escrita crua, bruta, com enredos e personagens tão próximos do real, tão significativos para uma certa realidade brasileira, negra, pobre, de favela, que muitas vezes conhecemos apenas de vista, dos noticiários nos jornais ou por filmes.

Conceição Evaristo traz em sua obra uma realidade que apenas o não-privilegiados conhecem de perto. Seus personagens e tramas são muito bem construídos a partir do que é vivido, todos os dias, em diferentes localidades brasileiras, por mulheres, homens e crianças, pobres e negros. A autora traz um protagonismo o qual não havia presenciado antes, não nos livros canônicos, escritos por homens ou mulheres brancas, da classe burguesa, pertencentes a uma classe erudita, que se limita a nos oferecer um olhar distanciado e meio parco sobre determinadas camadas populacionais. Conceição Evaristo não. Mulher, negra, relata histórias muito bem embasadas no real, porém, reescreve suas histórias com um lirismo e sutileza que não havia lido antes.

Ao retratar sobre morte, perdas, filhos, crenças, amor e paixão, a autora universaliza seu discurso literário para qualquer leitor identificar-se, porém com o diferencial de ambientar suas histórias a um protagonismo não muito comum em nossas leituras canônicas. Seu olhar é diferenciado para com esses personagens, é presenciado um carinho, uma sutileza nas descrições, um respeito para com as crenças de culturas que foram deixadas de lado. Ao mesmo tempo que universaliza sua escrita, Conceição Evaristo a particulariza, nos proporcionando uma leitura densa e melancólica, pois mesmo com um lirismo tão belo, suas histórias não deixam de carregar cenas tristes e finais não tão felizes.

No mais, não quero me deter na descrição de cada conto, mas é preciso enfatizar a mistura de pequenas histórias, rápidas tramas que nos conduzem sempre a reflexões grandiosas sobre a vida, sobre o outro, sobre nós mesmos. Como primeira leitura da autora, a obra não me decepcionou, pelo contrário, surpreendeu no trato com as palavras, na descrição de histórias tão próximas a quem está inserido em locais desprivilegiados e a pessoas que facilmente identifico ao meu redor.

Para saber um pouco mais sobre os contos: Resenha no Jornal Rascunho.

11 julho 2017

Resenha - Pesadelos Infaustos

Nome: Pesadelos Infaustos
Autor (a): Breno Torres
Editora: Arwen
Sinopse: Nevoeiros povoam as utopias e cotidianos das infaustas criaturas dos mundos desde as remotas eras. Caminhando no tênue limiar entre pesadelos e triunfos, os peregrinos dos universos, em suas eternas buscas por conquistas e glórias, confrontam os enredos obscuros que Algo ou Alguém – Deus? – tece para cada um de seus passos, deparando-se com as sombras, melancolias e temores inevitavelmente encontrados no caminho. O que de profano, ultrarromântico, caótico e celestial ecoa nas narrativas dos andarilhos dos mundos? Há espaço para a contraditória natureza angélica e demoníaca do ser? Há salvação para os mais miseráveis e condenados errantes das raças?

Escrever sobre o sonho de alguém nunca será uma tarefa fácil. Ao me deparar com o livro de um conhecido querido, logo viabilizei a aquisição e ao ler, pude constatar o quão bom o trabalho de Breno Torres foi, é e continuará sendo.

Pesadelos Infaustos trata de uma compilação de contos de terror/suspense, com elementos sobrenaturais e humanos, que carregam a tradição de autores que o inspiram, como Anne Rice. Perceptível é a influência que o autor teve no processo de escrita desse livro. Aqui, temos vampiros, fadas, bruxas e lobisomens vivendo histórias marcantes e muito bem descritas.

Não gostaria de me prolongar ao descrever cada conto presente no livro, porém, preciso enfatizar o quanto cada um deles, pela forma que foi escrito, ficou na memória após a leitura. A narrativa do padre e sua filha bruxa, a tragédia do animal contido dentro do humano, a fascinação pelo mundo vampiresco, lembrando tanto as histórias de Anne Rice foram alguns dos contos que emergem da memória ao relembrar a leitura da obra.
A escrita de Breno Torres é descritiva, poética e carregada de influências do fantástico literário, da música pop e de leituras contemporâneas. Em alguns pontos peca por cenas, acredito eu, desnecessárias ao enredo, provavelmente com intenções de chocar através do erotismo e diálogos um tanto chulos ou prolixos. Mas nada que impeça o deleite das narrativas instigantes que o autor traz ao seu livro.

A obra ainda traz uma diagramação muito bem elaborada, aos moldes da temática de suspense/terror das narrativas e em cada início de capítulo, há um trecho de uma música, que, acredito ser integrante do repertório do autor.

Com personagens bem elaborados, honrando a tradição dos clássicos sobrenaturais, Pesadelos Infaustos é um prato cheio para quem ama o gênero terror/suspense com uma escrita especialmente elaborada e poética.

06 junho 2017

XXI Feira Pan-Amazônica do Livro


A Feira Pan-Amazônica do Livro que ocorre todo ano, em Belém - PA, foi diferente pra mim. Não prestigiei a Feira apenas como compradora, mas (também) como vendedora. Aprender um pouco a ser livreira nos 11 dias do evento foi bem desafiador, mas ao mesmo tempo muito gratificante. Meus olhos brilharam do começo ao fim em ver tantos livros saindo de caixas todos os dias, expostos, e novos, prontinhos para serem comprados.

Além da experiência maravilhosa com os livreiros das universidades que estavam no mesmo círculo de amizades da minha chefa (❣) e de aprender muito sobre venda e atendimento ao público, as ofertas nesse ano foram maravilhosas, e teve muito livro bom por preços ótimos.

Nos primeiros dias deu tempo de tirar foto de algumas ofertas que duraram até quase o penúltimo dia da Feira, ou seja, esgotaram, mas ficaram por bastante tempo disponíveis. Vários estandes novos e alguns tradicionais estiveram presentes e fizeram os consumidores de livros e outros artigos relacionados surtarem com tanta coisa boa.

Numa estande chamada Qualquer livro a 10,0 reais (esse era o nome mesmo, não tinha outro), vi muitos (muitos mesmo) livros interessantes por esse valor bem em conta. Confere alguns:

O Diário de Anne Frank esgotou no antepenúltimo dia, mas vi muita gente com ele na sacola. Deu pra aproveitar.
Além dessa, outras estandes disponibilizaram muitos livros de fantasia e aventura por preços bem baixos também. Não posso comparar a uma Bienal do Livro em São Paulo e Rio de Janeiro (as quais nunca estive presente,mas sempre fico sabendo de preços menores ainda), mas essas estandes com esses livros a esse valor são novidades aqui em Belém, e acredito que trouxe muita gente às compras por conta delas.
Outra estande que estava com preços ótimos era a da Novo Século. Quase tudo a 20,0 e 15,0 reais. Todos os títulos da Rainbow Rowell por esse preço e boxes de histórias em quadrinhos e um do Mário de Andrade. Esse último eu adquiri 🖤
Na Livraria Relicário, um sebo famoso aqui de Belém, também muita coisa boa esteve por lá. Alguns livros raros, como a primeira edição de Primeira Manhã, do autor paraense Dalcídio Jurandir, prestigiado e estudado na área de Letras da UFPA e outras universidades. Uma amiga estudiosa do escritor conseguiu levar por um preço bem bacana.

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