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07 setembro 2020

Resenha - Menina do Mato & Outros Poemas Anfíbios

Título: Menina do mato & outros poemas anfíbios
Autora: Josiane Melo
Editora: Pará.grafo
Onde comprar: Pará.grafo Sinopse: Menina do mato e outros poemas anfíbios é exatamente como um livro de poesia deve ser, conciso. Assemelha-se com as águas predominantes na Amazônia, não há nada de cristalino em sua palavra, você pode mergulhar mas desconhece toda espécie de seres e objetos viventes no fundo. Quem transita entre águas tem alguma comunidade ou urbe destino. E a geografia da poeta nos convida para ampliar nossa noção de cidade. O restante do Brasil e do mundo tem mania de imaginar a Amazônia em uma dialética tensa entre florestas e desmatamento, rural e urbano. E se levássemos a sério esses versos, encontrando uma verdade tão óbvia de escondida, não é a cidade e o mundo inteirinho uma floresta calculada?

Ler poesia paraense está sendo mais do que prazeroso. Continuo em meu projeto pessoal de ler mais poemas e mais autores oriundos da minha região, Pará, e a Josiane Melo foi mais uma leitura privilegiada que realizei. Menina do Mato e Outros Poemas Anfíbios é um título bem sugestivo à obra, mas ela não se resume apenas pela menção e referências de elementos paraoaras (relativo ao Pará); os poemas de Josi remetem igualmente a questões de identidade, referências literárias, amor, família e sobre ser mulher.

Há que se enfatizar, também, o prefácio do livro, escrito por Hermes Veras, também escritor, que nos deixa com um gostinho de quero mais ao ler sua apresentação, muito bem escrita e igualmente poética, estando muito bem à altura da produção de Josi.

A poesia do mato, do rio, das ruas enlameadas, das prateleiras de livros a se equilibrarem em habitações de palafitas, sempre passíveis de mergulho, enfim, a poesia anfíbia é um brinquedo de cura!
Hermes de Souza Veras (viu.eitanem)

É um livro curto, mas muito significativo, principalmente pelos elementos regionais presentes: a rede, o mato, o rio, a ancestralidade familiar, o linguajar paraense, os costumes daqui. A leitura e releitura desses breves poemas, grandiosos em sua poética, é mais do que bem-vinda e relembrar do que foi lido também.

Josi também nos apresenta em sua poesia uma mulher escritora apaixonada por livros, por leitura, por literatura em si. Minhas partes preferidas com certeza foram as de referências feministas e de outras produções literárias:
corri para ver o mar
com entusiasmo de escavar
corpos preciosos
da ditadura militar
convivemos com a morte diária
pelas beiradas dos canais
matas
rios
dos becos verticais
fingimos não ver
a morte clandestina
pelos becos da memória
no corpo da menina
Mortalidade clandestina (Para Conceição Evaristo) - Josiane Melo
Além da simpatia e carisma da autora (poder ter um exemplar autografado e um encontro, breve, mas pessoal com o autor, é uma das vantagens de se ler literatura contemporânea de autores locais), a edição da Pará.grafo, editora de Bragança (cidade do Pará, a 212 km de distância da capital) é primorosa. Afora um errinho na segunda orelha do livro, não tenho o que apontar na revisão ou diagramação dele. Recomendo muito a quem gostar do gênero ou quem deseja iniciar na leitura de poemas.

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