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02 maio 2018

Resenha - No seu pescoço

Nome: No seu pescoço
Original: The Thing Around Your Neck
Autor (a): Chimamanda Ngozi Adichie
Editora: Cia das Letras
Sinopse: A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie vem conquistando um público cada vez maior, tanto no Brasil como fora dele. Em 2007, seu romance Meio sol amarelo venceu o National Book Critics Circle Award e o Orange Prize de ficção, mas foi com o romance seguinte, Americanah, que ela atingiu o volume de leitores que a alavancou para o topo das listas de mais vendidos dos Estados Unidos, onde vive atualmente. Ao trabalho de ficcionista, somou-se a expressiva e incontornável militância da autora em favor da igualdade de gêneros e raça. Agora é a vez de os leitores brasileiros conhecerem a face de contista dessa grande autora já consagrada pelas formas do romance e do ensaio. Publicado em inglês em 2009, No seu pescoço contém todos os elementos que fazem de Adichie uma das principais escritoras contemporâneas. Nos doze contos que compõem o volume, encontramos a sensibilidade da autora voltada para a temática da imigração, da desigualdade racial, dos conflitos religiosos e das relações familiares. Combinando técnicas da narrativa convencional com experimentalismo, como no conto que dá nome ao livro — escrito em segunda pessoa —, Adichie parte da perspectiva do indivíduo para atingir o universal que há em cada um de nós e, com isso, proporciona a seus leitores a experiência da empatia, bem escassa em nossos tempos.

No seu pescoço foi o segundo livro de Chimamanda Ngozi Adichie que tive o prazer de ler. Diferente de Hibisco Roxo, o presente livro é um compilado de contos da autora, ambientados em diferentes espaços, tratando sobre diferentes personagens, com histórias bem diversas uma da outra.

A escrita da autora não deixa a desejar, novamente. De descrições relevantes, em primeira ou terceira pessoa, a autora mescla uma escrita simples, clara, com passagens muito bem construídas, poéticas e imagéticas, algumas vezes. Mas o que mais chama atenção em suas narrativas são seus personagens e as tramas que os envolvem. Sempre muito marcantes, muito bem construídas em torno da cultura nigeriana, Chimamanda retrata, sob diferentes nuances, perspectivas sobre a vida de mulheres que permanecem em seus locais de origem ou migram para os Estados Unidos, um percurso comum nos casamentos arranjados narrados pela autora.

Os conflitos são muitos. Entre família, religião, cultura, identidade. A autora também destina seus escritos para retratar conflitos políticos, os quais modificam toda uma vida descrita em alguns dos seus contos, envolvendo mortes, desesperança, mudanças de perspectivas sobre a vida.
Descrever tão profundamente, em poucas páginas, sobre aquelas vidas e histórias, e comover seu leitor com elas, não é para qualquer um. Chimamanda consegue imprimir sua identidade como autora porta-voz de uma nação, de uma cultura, politicamente voltada para determinadas parcelas da população, mas suas histórias podem, e muito, nos fornecer um processo de identificação com suas histórias, em questões mais amplas, universais, inerentes a todos nós.

Em No seu pescoço é evidente, em quase todos os finais, o “deixar para trás”, o “dar de costas” das protagonistas perante uma situação que elas não suportavam mais. Interessante esse movimento, de quebra de um status quo, aparentemente sem saída, mas que o abandono torna-se o único modo de escape da situação. Isso ocorre em tramas com dramas familiares, principalmente.
Não me detive em descrever e opinar sobre cada conto, mas espero ter passado, pelo menos um pouco, das impressões tão boas que tive ao ler essa obra. Chimamanda Ngozi com certeza ganhou um espaço em minha estante e em meu coração de leitora, pelas suas tramas e por seus personagens tão marcantes.

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