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11 julho 2017

Resenha - Pesadelos Infaustos

Nome: Pesadelos Infaustos
Autor (a): Breno Torres
Editora: Arwen
Sinopse: Nevoeiros povoam as utopias e cotidianos das infaustas criaturas dos mundos desde as remotas eras. Caminhando no tênue limiar entre pesadelos e triunfos, os peregrinos dos universos, em suas eternas buscas por conquistas e glórias, confrontam os enredos obscuros que Algo ou Alguém – Deus? – tece para cada um de seus passos, deparando-se com as sombras, melancolias e temores inevitavelmente encontrados no caminho. O que de profano, ultrarromântico, caótico e celestial ecoa nas narrativas dos andarilhos dos mundos? Há espaço para a contraditória natureza angélica e demoníaca do ser? Há salvação para os mais miseráveis e condenados errantes das raças?

Escrever sobre o sonho de alguém nunca será uma tarefa fácil. Ao me deparar com o livro de um conhecido querido, logo viabilizei a aquisição e ao ler, pude constatar o quão bom o trabalho de Breno Torres foi, é e continuará sendo.

Pesadelos Infaustos trata de uma compilação de contos de terror/suspense, com elementos sobrenaturais e humanos, que carregam a tradição de autores que o inspiram, como Anne Rice. Perceptível é a influência que o autor teve no processo de escrita desse livro. Aqui, temos vampiros, fadas, bruxas e lobisomens vivendo histórias marcantes e muito bem descritas.

Não gostaria de me prolongar ao descrever cada conto presente no livro, porém, preciso enfatizar o quanto cada um deles, pela forma que foi escrito, ficou na memória após a leitura. A narrativa do padre e sua filha bruxa, a tragédia do animal contido dentro do humano, a fascinação pelo mundo vampiresco, lembrando tanto as histórias de Anne Rice foram alguns dos contos que emergem da memória ao relembrar a leitura da obra.
A escrita de Breno Torres é descritiva, poética e carregada de influências do fantástico literário, da música pop e de leituras contemporâneas. Em alguns pontos peca por cenas, acredito eu, desnecessárias ao enredo, provavelmente com intenções de chocar através do erotismo e diálogos um tanto chulos ou prolixos. Mas nada que impeça o deleite das narrativas instigantes que o autor traz ao seu livro.

A obra ainda traz uma diagramação muito bem elaborada, aos moldes da temática de suspense/terror das narrativas e em cada início de capítulo, há um trecho de uma música, que, acredito ser integrante do repertório do autor.

Com personagens bem elaborados, honrando a tradição dos clássicos sobrenaturais, Pesadelos Infaustos é um prato cheio para quem ama o gênero terror/suspense com uma escrita especialmente elaborada e poética.

19 novembro 2013

Resenha - Noites Italianas

Título: Noites Italianas; 
Original: The Romantic;
Autor(a): Kate Holden;
Editora: Novo Conceito;
Tradução: Carolina Caires Coelho;
Sinopse: Quanto Kate decidiu abandonar seu passado, em Melbourne, e começar uma jornada para dentro de si mesma, foi para um país reconhecidamente româtico. Enquanto se encantava com as ruínas de Roma e as praças de Nápoles, esperava encontrar - em ruas estrangeiras - sua verdade pessoal. Mas a peregrinação de Kate exigiu coragem. Encontrar o verdadeiro amor, ou, quem sabe, perder-se para sempre de maneira a não ter mais qualquer chance de resgate foram possibilidades reais na Itália... Especialmente para alguém que estava acostumada a viver entre as vielas da escuridão. Em um romântico, mas estranho país, com muitos - alguns bem significativos - casos de amor, e mais algumas noites de sexo sem compromisso, ela vai se perguntar se é, verdadeiramente, um espírito livre, ou uma atriz que decorou tão bem o seu papel de mulher sedutora que já não consegue desvencilhar-se dele...


Noites Italianas foi uma cortesia da editora Novo Conceito a qual, assim que saiu o catálogo, meus olhos castanhos logo se arregalaram de interesse e vontade. Acho que todo mundo aqui sabe como é quando um livro que faz totalmente a sua cara está ali, disponível para ser pego gratuitamente: o olhar brilha, a boca sorri, mil e uma ideias de como o enredo e os personagens devem ser se formam na mente. Aquele livro, que a sinopse dizia contar a história de uma mulher (a própria Kate Holden) que necessitava sair de seu lugar natal para reencontrar-se e entender-se após um tempo obscuro de vício em heroína e de venda do próprio corpo para conseguir manter as dívidas pagas, e que escolhera justamente a Itália como o lugar para plano de fundo de sua jornada, soou-me encantadoramente tentador. Como um bom fã de Comer, Rezar, Amar (aliás, adianto-lhes: para aqueles que acharam que a história, por se tratar de uma redescoberta pessoal e situar-se na Itália, é muito igual à epopeia espiritual de Elizabeth Gilbert: vocês estão enganados), sou apaixonado por relatos pessoais – livros de memórias – e principalmente aqueles que têm cunho intimista e introspectivo, e muito mais apaixonado ainda pelo lugar da linda e bela dolce vita. Quer dizer: o que mais eu poderia querer deste livro, que parecia ter tudo o que eu queria e mais um pouco?

Mas é aí que está o ponto: eu não encontrei no livro aquilo que eu pensei encontrar. Para começar essa discussão opinativa sobre Noites Italianas, o primeiro choque que encontrei foi que, apesar de ser um livro de memórias – onde os autores costumam tratar de si mesmos em, obviamente, primeira pessoa –, Kate Holden fala de si mesma em terceira pessoa. Eu não cheguei a pensar que tudo poderia desandar por esse fato; confiei na escrita da autora, e deu certo. O estilo dos relatos de Kate Holden, contados em terceira pessoa (“Ela”, como quase sempre é referida), deram à autora a margem para ser tão intensamente poética como conseguiu ser. Noites Italianas é como um enorme poema, que foi desmembrado para linhas em prosa, o qual manteve seu belo lirismo e seus floreios textuais próprios de uma linguagem poética. É uma escrita linda, de palavras lindas, de um tato e uma perícia textual belíssima que, mesmo em momentos carnais, sexuais ou dolorosos, consegue ser tão sutil quanto um céu noturno italiano.

Momentos esses os quais, fiquem todos avisados: compõem grande parcela do livro. Para ser bem franco, acho que em quarenta por cento (se não mais) do livro Kate Holden está ou fazendo sexo ou pensando em sexo. A personagem tem intrínseca à sua pessoa a prática sexual, ela gosta de fazer sexo (e, convenhamos, ela está na Itália). Tão é forte a questão sexual no texto de Holden que as “Partes” que dividem o livro levam justamente o nome de pessoas com quem Kate teve algum tipo de envolvimento carnal na Itália (fora a última, é claro). Porém, ainda que seja sexo retratado e em algumas vezes as palavras usadas sejam consideradas fortes demais para alguns, a poesia não se perde; a introspecção menos ainda. É absurdo, às vezes, a forma com que você parece estar dentro de Kate Holden. É como se você estivesse lendo sua pele, sua carne, não suas palavras. E o mais curioso de tudo é que a autora não se vale de irreverentes e complicadas discussões filosóficas para alcançar o seu interior: ela é simplória, mas numa narração rica e uma veia interminavelmente poética.

É corajosa, Holden. Acho que o fato de abandonar tudo o que se tem, todo o conforto, para buscar a si próprio, já é um grande fator que demonstra bravura, porém é perceptível o quão baqueada sentimentalmente esta mulher se encontra nas páginas do livro. Holden tem bravura não só por buscar novos horizontes longe de tudo o que tem, não só por tentar reconstruir sua vida após uma enxurrada de momentos ruins perpassarem por seus caminhos, mas também por ser ela mesma. Kate Holden é uma mulher complicada, sinceramente meio doidona, às vezes permissiva demais, às vezes submissa demais, entregue demais. Cheguei a momentos do livro em que olhei para aquilo que lia e realmente disse pra mim mesmo: “Gente, como ela pode fazer isso? Como ela se permite?” – entretanto, sabe aquele tipo de personagem que, mesmo fazendo tanta bobagem, algumas coisas as quais você não concorda, você não consegue deixar de amar? Não há como não amar a – essa talvez seja a frase mais clichê de todos os tempos, mas é verdade – complicada e perfeitinha Kate Holden. Ela é incrível, e eu realmente gostaria de ser amigo dela.

E, ah, e a Itália?... Eu sou suspeito para falar desse lugar, é claro: todo mundo que me conhece sabe que sou perdidamente apaixonado por tudo que é italiano – da arquitetura à gastronomia (com ênfase na última, é claro). Conheço muito da Itália: estudo muito sobre. Eu já me considerava um perfeito fã desse país, mas lá me veio Kate Holden também me causando isto: mais paixão e amor por este lugar. Talvez uma das coisas mais lindas que existam nesse livro seja assistir a Itália, e seu dia-a-dia, e sua arquitetura, e suas pessoas, e suas construções, e sua comida, pelos olhos poéticos de Holden. Sua descrição sobre o lugar é apaixonante, linda, de uma poesia sedutora (faz você querer conhecer aqueles lugares) e suave. Vale realmente a pena conferir.

Já quanto ao final, é um bom final. Os acontecimentos que levaram ao fim foram os mais tristes do livro, sem dúvidas, quanto à questão sentimental. O sentimental torna-se palpável nos últimos momentos, porém não meloso e chato (não caberia num livro e numa escrita tão madura algo assim; ao menos não de forma exagerada), e culmina em algo que é realmente já esperado da narrativa. Não é um final de reviravolta épica; é um final simples, calmo. Não tão bonito, porém libertador. Posso afirmar sem sombra de dúvidas que tem um dos finais mais reticentes que já li – e, por isso, um dos mais completos.

Noites Italianas é um livro que superou todas as minhas expectativas, e que fez em mim marcas bastante profundas. Algumas doloridas, mas edificantes – todas elas. De qualidade, de poesia, de introspecção, e de busca de si mesmo: um lindo livro. Que vale a pena ser lido com o mais bondoso e compreensivo dos olhares literários.

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