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17 maio 2017

Resenha - Um Teto Todo Seu

Nome: Um Teto Todo Seu
Original: A Room of One's Own
Autor (a): Virginia Woolf
Editora: Tordesilhas
Sinopse: Baseado em palestras proferidas por Virginia Woolf nas faculdades de Newham e Girton em 1928, o ensaio Um teto todo seu é uma reflexão acerca das condições sociais da mulher e a sua influência na produção literária feminina. A escritora pontua em que medida a posição que a mulher ocupa na sociedade acarreta dificuldades para a expressão livre de seu pensamento, para que essa expressão seja transformada em uma escrita sem sujeição e, finalmente, para que essa escrita seja recebida com consideração, em vez da indiferença comumente reservada à escrita feminina na época. Imaginando, por exemplo, qual seria a trajetória da irmã de Shakespeare – caso o famoso escritor tivesse uma e ela fosse tão talentosa quanto o irmão –, Woolf descortina ao leitor um cenário em que as mulheres dispunham de menos recursos financeiros que os homens e reduzido prestígio intelectual. Será que à irmã de Shakespeare seria dada a mesma possibilidade de trabalhar com seu potencial criativo? Como o papel social destinado aos dois sexos interfere no desenvolvimento (ou na falta) de uma habilidade nata? Virginia mostra como, na época, a elaboração da competência de uma pessoa dependia de seu sexo, uma vez que a sociedade reservava aos homens e às mulheres papéis, atribuições e concessões bastante distintas. A maioria das mulheres não dispunha da liberdade e da privacidade necessárias para ter um lugar próprio para refletir e laborar na escrita. Daí a afirmação da escritora de que“uma mulher precisa ter dinheiro e um teto todo seu se quiser escrever ficção”. Uma mulher precisa ter condições financeiras e espaço para pôr-se a contemplar suas ideias e colocá-las no papel. Com a linguagem original e a fluidez de pensamentos que lhe são características, Woolf aponta neste ensaio um padrão duplo presente na sociedade, segundo o qual os homens eram estimulados a aprimorar suas habilidades criativas enquanto às mulheres era reservado um papel de sujeição. Esta edição traz, além do ensaio, uma seleção de trechos dos diários de Virginia, uma cronologia da vida e da obra da autora e um posfácio escrito pela crítica literária e colaboradora da Folha de S. Paulo Noemi Jaffe.

Já conhecia este livro de ensaios da Virginia Woolf por muitos comentários bons relacionados a ele e perfis o mencionando como leitura atual. Mal pude esperar para realizar sua leitura quando o adquiri em uma promoção na livraria virtual Amazon e a leitura foi um tanto inesperada.

Virginia se propõe a discutir o papel da mulher na ficção em palestras que originaram esse livro e primeiro irá contar, a partir da experiência de uma personagem que cria, uma ensaísta, a visita a uma universidade de prestígio, nos expondo, inicialmente, as limitações de uma mulher naquela universidade, que a repreende por andar na grama (um guarda a chama atenção por seu caminhar indevido), fecha as portas para a sua entrada na Biblioteca (o local era proibido para mulheres) e a serve comida "sem graça" (no refeitório só para mulheres). Dessa forma, Virginia irá realizar comparações a partir do que nos descreve em seus primeiros relatos.

Não sendo nada convencional, ao se tratar de um ensaio, a autora escreve, a partir de sua escrita singular, com passagens interrompidas por regressões de pensamento, de forma a ir além do escrito ensaístico, com opiniões próprias e dados relevantes ao tema, ao nos tentar explicar o papel da mulher na ficção. E faz isso de forma brilhante. Desenvolve uma tese de que para a mulher estar inscrita na ficção, ela precisa de um teto todo seu e uma renda fixa mensal para poder desenvolver sua escrita de forma magistral. 
A autora ainda traz um vislumbre da vida de algumas autoras hoje conhecidas, como Charlotte Brontë, Emily Brontë, Jane Austen e George Eliot. Trazendo seu panorama desde o século XVIII, Virginia nos esclarece muito de como a mulher está inscrita na ficção e escreve sobre isso muito em comparação ao outro sexo, o qual não poderia deixar de lado, pois nossas vidas são rodeadas por eles, os homens.

A autora também desmistifica a ideia de escrever literatura como sendo algo proveniente da simples e pura inspiração, mas sim como um trabalho com as palavras, algo árduo, que necessita de muitas leituras, estudo, tempo e dinheiro para investir nisso.

É uma escrita empoderada, numa época em que já poderíamos vislumbrar essa palavra em meio a movimentos sociais e discursos de diferentes mulheres, como o dela.
Confesso que não concordei em alguns pontos da autora em determinadas passagens, porém, no geral, o livro nos dá muito um vislumbre do quanto a produção feminina na literatura ainda precisa crescer, envolvendo não só as questões literárias, subjetivas, mas sociais, políticas e financeiras.

01 maio 2017

Resenha - Mosquitolândia

Título: Mosquitolândia
Título original: Mosquitoland
Autor (a): David Arnold
Editora: Intrínseca
Sinopse: “Meu nome é Mary Iris Malone, e eu não estou nada bem.” Após o inesperado divórcio dos pais, Mim Malone é arrastada de sua casa em Ohio para o árido Missis - sippi, onde passa a morar com o pai e a madrasta e a ser medicada contra a própria vontade. Porém, antes mesmo de a poeira da mudança baixar, ela descobre que a mãe está doente. Mim foge de sua nova vida e embarca em um ônibus com destino a seu verdadeiro lugar, o lar de sua mãe, e acaba encontrando alguns companheiros de viagem muito interessantes pelo caminho. Quando a jornada de mais de mil quilômetros toma rumos inesperados, ela precisa confrontar os próprios demô- nios e redefinir seus conceitos de amor, lealdade e sanidade. Com uma narrativa caleidoscópica e inesquecível, Mosquitolândia é uma odisseia contemporânea, uma história sobre as dificuldades do dia a dia e o que fazemos para enfrentá-las.

Eu ganhei esse livro de sorteio no Skoob (coisa rara, eu sei) há muito tempo atrás e somente agora pude ter a oportunidade de lê-lo. Depois de muito tempo sem ler um Young Adult (posso classificar ele assim?), me peguei cativada pela história, por Mary Iris Malone e por Walt e Beck.

A história é sobre Mim fugindo da escola após uma advertência do diretor e indo ao encontro de sua mãe que está em outra cidade, Cleveland. Ela furta o dinheiro de sua madrasta, junta algumas camisas e comida na sua mochila e parte para a sua aventura, sozinha e ansiosa para reencontrar a mãe que não envia cartas há três semanas. Após encontrar, na caixa de Halls que estava com o dinheiro, uma carta de sua mãe pedindo ajuda à sua madrasta, Mim liga os pontos e acredita que foi afastada de propósito de sua progenitora e agora, mais do que nunca, com a ideia de sua mãe estar doente também, a menina precisa chegar até ela.

A história me surpreendeu por não se tratar de algo superficial ou mais do mesmo que eu pensei encontrar nesse livro. Mim não se sente nada bem em Mosquitolândia, mais conhecida por Mississipi, a cidade onde mora, por conta do afastamento de sua mãe, o recente casamento de seu pai, e o próprio comportamento dele para com ela. Nada fica muito claro por meio da voz de Mim, mas aos poucos compreendemos que ela, assim como sua mãe, tem problemas que necessitam de uma dose de medicamento, recomendada por um médico de confiança de seu pai. Ela escreve cartas para uma Isabel, contando os motivos dessa repentina e louca viagem para encontrar sua mãe e vamos compreendemos quem é  Mim e o que faz dela ser quem é aos poucos.
De personalidade intrigante e única, a nossa protagonista cativa do começo ao fim. Com o surgimento de outros personagens, como Walt, um garoto com síndrome de Down que a ajuda em uma de suas paradas em sua road trip e Beck, o garoto da poltrona 17C do ônibus que Mim estava, a história fica ainda mais intrigante.

Narrando sobre dramas familiares, comportamento, abuso e a até morte, David Arnold, por meio da voz de Mary Iris Malone, nos traz uma obra singular e nada boba. Uma leitura fácil, não tão rápida (o livro contém um pouco mais de 300 páginas), a road trip de Mim fica na memória dos leitores por sua personalidade instigante, sua história, suas lições de vida e seu final otimista.

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