Para além de uma leitura prazerosa, escolhida para deleite ou distração, cada vez mais torna-se difícil trabalhar com livros e leitura. Instrumentalizar a leitura em sala de aula e realizar o estudo sobre Literatura é tarefa árdua e penosa. Não há motivação para a leitura em si. Não há lógica, na cabeça de quem está fora da universidade e dentro dela, o estudo sobre um texto tão antigo que não discorra sobre a profissão almejada ou sobre algo que a pessoa vivencia ou se identifica imediatamente. O posicionamento dos indiferentes à Literatura em sala de aula pautam-se em falta de tempo, falta de concentração ou falta de compreensão do texto.
No entanto, mesmo oferecendo diferentes suportes para o consumo das narrativas, mesmo com a mediação de leitura e as explicações sobre as convenções literárias, ainda surgem as vozes de que "são muitas leituras", "não entendi nada do que li", "comecei a ler e desisti", aparecendo até mesmo aqueles indignados com o teor presente nos textos depois de realizar a leitura por um viés anacrônico.
Dizem que a indiferença é pior do que o ódio. Como profissional de Letras, mais especificamente na área dos Estudos Literários, confirmo que o desprezo ao estudo do texto literário é, de fato, pior. Quando não se enxerga a validade de um estudo e tentam deslegitimá-lo ou subjugá-lo, atinge-se quem trabalha com isso e relega esses indivíduos a um fazer "sem sentido". Sinto-me dessa forma às vezes. E acredito que todo professor, principalmente da área de Humanas ou Linguagens, já se sentiu assim.
Em tempos históricos como esses que estamos vivenciando, se não houver espaço para a Arte, para a Literatura, para a música, dança, teatro, para a Filosofia e Sociologia, e para o estudo e aprofundamento desses ramos do saber, sim, meu caro leitor preguiçoso, existem formas de conhecimento para além de disciplinas pragmáticas e quantificativas, que tipo formação humana, cívica e psicológica estaremos realizando?! Se o meu fazer se resumir a quantos itens de Literatura caem no Enem ou a quantos pontos essa leitura vale, que tipo de profissão estou seguindo?
São tempos sombrios que pedem palavras de esperança, de afeto, de atenção, mas acredito que, mais do que nunca, é preciso também reconhecer onde estamos errando ou, pelo menos, onde podemos melhorar. Ainda assim, apesar de tudo, é mais do que uma honra trabalhar nesta área e poder alcançar, por meio das palavras, das histórias, do afeto e das reflexões literárias, meus alunos. Desejo apenas que tal fazer não se esgote.
Oi Jenifer! São tempos difíceis mesmo. Não trabalho com essa área, mas compartilho da sua frustração de fazer as pessoas entenderem a importância da arte, da cultura, da música, da literatura, etc. na vida das pessoas. A grande maioria está tomada por uma mentalidade utilitarista onde só serve aquilo que é útil, sendo esse "útil" aquilo que gira a maquina capitalista, que gera dinheiro. Nada faz sentido se não for pra trabalhar com isso ou ganhar dinheiro de alguma forma. É frustrante e complicado, mas seguimos. Espero que as coisas melhorem por aí e com seus alunos, por mais difícil que seja, uma pessoa que consegue entender já vale a pena
ResponderExcluirBeijos!
Lua de Marte
Concordo que a indiferença é pior de que nutrir sentimentos diferentes. Precisamos nutrir e verbalizar sentimentos bons e maravilhosos.
ResponderExcluirBeijos.
http://www.parafraseandocomvanessa.com.br/
A leitura nos leva a vários universos: nao só ao universo da leitura, mas da medicina, das engenharias, etc. O que a gente aprende em literatura é utilizado para escrevermos nossos relatórios, nossos manuais, nossoss livros ou e-books, seja a profissão que for.
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