20 maio 2020

Dos últimos que vi #08: Festival Varilux


O cinema francês, assim como o cinema latino-americano ou de qualquer outra nacionalidade que não a estadunidense, sempre foi uma incógnita pra mim. Exceto por Amélie Poulain, não tinha assistido muitos filmes franceses e achava que muitos seriam chatos por terem a fama de serem 'cult' ou muito 'dramáticos'. Ledo engano, como toda cultura cinematográfica, temos um catálogo diversificado de gêneros e temáticas no cinema francês e é sempre bom conhecer mais dessas produções além do mainstream. Comecei a assistir mais produções em francês devido ao início dos meus estudos na língua e desde então venho assistindo ótimas produções cinematográficas, de dramas a comédias românticas.

Durante a quarentena mundial, o Festival Varilux não pode ser realizado em cinemas ou instituições de língua francesa nas datas previstas (início de junho), então, a partir da iniciativa da Embaixada da França no Brasil, foi disponibilizado 50 filmes para serem assistidos gratuitamente na plataforma Looke.

Pra quem não sabe, o Festival Varilux é um festival de cinema francês que visa levar a cultura cinematográfica francesa para a maior quantidade de pessoas no mundo. Ele ocorre anualmente em 80 países, sempre com uma programação bastante diversificada envolvendo diversos gêneros de filmes franceses.

Pensando na tag aqui do blog, decidi elaborar esse post com algumas recomendações de filmes que já assisti por lá.

Um filme de comédia romântica nada convencional. Os protagonistas se conhecem em um final de semana, por meio do Tinder, e Ben decide convidar Marion para viajarem juntos em suas férias, em um lugar meio-termo para os dois, o que deu no país Bulgária (um lugar não muito atrativo para aproveitar). De primeira, parecia uma péssima ideia viajar com um desconhecido, no final, continuou sendo uma péssima ideia, mas com um resultado bem aquém do esperado. O casal é diferente dos protagonistas que geralmente vemos em comédias desse tipo, e as situações são muito engraçadas, mesmo as mais constrangedoras. Ben tem uma personalidade um pouco sistemática e é meio neurótico com cuidados de higiene, além de sempre desejar o máximo conforto possível, já Marion é um espírito livre, nada limitada quando se vê em diversas situações de poucos recursos para dormir ou até mesmo comer durante a viagem. Dois opostos que acabam se dando muito bem e nos tiram muitas risadas durante as cenas juntos.


A animação Abril e o Mundo Extraordinário é uma produção distópica em que, a partir de atrasos científicos e um tratado de paz por Napoleão III, adventos tecnológicos não são desenvolvidos e vive-se por anos a fio sob o atraso em locomoções via carvão, causando doenças e disputa por esse material que cada vez mais se esgotava. Enquanto isso, cientistas misteriosamente continuam a sumir, enquanto os poucos que restam são subordinados a um governo que só pretende desenvolver armas para as possíveis outras guerras que estão por vir. Nesse contexto, conhecemos a história de Abril e seus pais, os quais antigamente tentaram elaborar um elixir da vida, este que deixaria todo ser humano invencível contra doenças e qualquer enfermidade ou acidentes. Porém, ao serem perseguidos pelo governo da época, durante sua fuga se separam de sua filha e do avô dela, e acabam falecendo. Abril cresce sozinha, apenas com seu gato de estimação (que fala, fruto de um experimento científico dos pais) e seu globo de neve de Paris, o qual (ela não sabe) contém o elixir que seus pais não conseguiram experimentar a tempo.
Abril é uma animação muito bem elaborada e escrita, dinâmica e cheia de surpresas. Com certeza traz assuntos relevantes para debates sobre ciência, ética e avanços tecnológicos, além de nos entreter facilmente com as aventuras da protagonista e seu gato falante por uma Paris que aparenta ter estagnado no século XIX. Recomendo muitíssimo essa animação.

Também temos filmes históricos e de época no Festival. A Revolução em Paris trata sobre a famosa Revolução Francesa, quando o povo revoltou-se contra o monarca Luis XVI, para, após muito derramamento de sangue e disputas políticas, surgir a República. O diferencial do filme é retratar não exatamente a monarquia por sua perspectiva derrocada, mas sim um povo comum, homens e mulheres, principalmente as mulheres, importantes nas conquistas durante as ações de combate e manifestações contra o rei e suas imposições abusivas. Conhecemos a história de um casal apaixonado, de famílias pobres vítimas da fome e repressão governamental e de um pensador, defensor de ideias republicanas em uma época tão difícil como aquela. O foco dado à participação das mulheres nessa Revolução é muito bem feito na produção.

A cereja do bolo, talvez o mais instigante e apaixonante filme que vi entre os listados aqui (mesmo todos sendo muito bons). Cyrano Mon Amour trata de um escritor-poeta-dramaturgo falido, Edmond Rostand, no auge da Bèlle Époque parisiense, em 1897, que deseja escrever uma nova peça para o teatro, em versos, e que pretende ser um sucesso, pois sobrevive disso, ele e sua família. No alto do seu desespero, Edmond oferece um papel a um ator famoso à época, mas igualmente cheio de dívidas, Constant Coquelin, o qual aceita, contanto que a estreia da peça seja muito em breve. Porém, Edmon não tem nada escrito e assim vamos acompanhar o seu processo de criação em uma trama poética, bem humorada e muito romântica. Mesmo ninguém acreditando na escrita de Edmond, ele tem certeza que conseguirá algo e as situações em sua vida pessoal ajudam-o a se inspirar.
Nem preciso dizer que o pano de fundo do filme é mais do que atraente para quem ama ver cenários do século XIX, em Paris. Além disso, os personagens possuem personalidades marcantes, todos com suas trajetórias e histórias de vida instigantes. O humor também é presente durante muitas cenas, além das passagens poéticas em que vemos Edmond escrevendo e declamando o que escreveu. O dramaturgo é um personagem que realmente existiu e sua peça foi reencenada muitas vezes por muito tempo depois do primeiro espetáculo. Incrível ver todo um processo artístico, envolvendo poesia e teatro, durante esse filme. Recomendo muito aos amantes das Artes, da Literatura e do Teatro.

Ainda no clima da Literatura, O Mistério de Henri Pink trata de uma descoberta editorial, feita por uma jovem editora em uma biblioteca muito peculiar: a biblioteca de manuscritos rejeitados. Sim, em uma cidade interiorana da Bretanha, Daphné Despero descobre um manuscrito existencial que se iguala aos escritos de James Joyce. Muito brevemente o livro é publicado e se torna uma febre na França. Escrito por um pizzaiolo simples e humilde, porém, a obra desperta desconfiança quando chega nas mãos do crítico literário Jean-Michel Rouche, apresentador de um programa televisivo sobre Literatura (meu sonho isso aqui no Brasil). Em uma entrevista junto a viúva de Henri Pink (suposto autor da obra de sucesso) e à jovem editora, Jean-Michel expõe sua opinião e as reviravoltas em sua vida iniciam. Primeiro, sua esposa pede separação, após anos em um relacionamento estagnado, logo após é demitido devido a desfeita no programa ao vivo quando questionou a autoria da obra diretamente à viúva do falecido autor. Assim, Jean-Michel decide começar sua investigação, pois acredita fielmente que um simples pizzaiolo não escrevia obra tão contundente e aprofundada sobre Pushkin e a Rússia (temas marcantes no livro-descoberta). A aliança que faz com a filha do falecido é o que nos traz pitadas de humor durante a trama, as conversas envolvendo passagens literárias e o mistério que envolve o telespectador sobre quem seja realmente o autor da obra, nos instiga do início ao fim.

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9 comentários:

  1. Carambaaa! Você acredita que eu fiz ontem um post falando sobre filmes que eu particularmente não gostava e em sua maioria foi filmes franceses? Eu já assisti alguns mas TODOS me parecem chatos demais, lento, cults e sem graça hahahahha mas é bom ver alguém com outra visão, isso abre um pouco mais minha mente para aceitar obras que possam ser boas. Eu não conheço nenhum dos filmes, mas gostei de A revolução em Paris, porque eu gosto de obras com temas históricos. Adorei a indicação!
    Beijo!
    http://www.capitulotreze.com.br/

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    1. HAHAHAHA eu amei a coincidência! Espero que reveja o posicionamento sobre os filmes franceses, tem muita coisa boa mesmo e que foge desse estereótipo 'cult' rs ><

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  2. Eu escutei falar dessa iniciativa do Festival e achei mara. É uma forma de sair da nossa zona de conforto, né? Fiquei com muita vontade de assistir "Lulu nua e crua" (que li resenha em outro blog). Desses que você comentou: o primeiro, sem dúvida. E o último mega me chamou a atenção! Obrigada pelas dicas! ^^

    Beijos, Carol
    www.pequenajornalista.com

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    1. Não li nada ainda sobre Lulu nua a e crua! Vou procurar assistir também ;)

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  3. Conheci esse festival por meio de outro blog e amei o fato de terem liberado alguns filmes de forma gratuita. Confesso que além de filmes nacionais e estadunienses, eu prefiro as obras espanholas, mas, sempre é bom dar chance tbm ao cinema francês, já que a música do país eu consumo bastante.
    O Mistério de Henri Pink foi o filme que mais me chamou a atenção, mas gostei das indicações de modo geral.
    Beijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥

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    1. Eu também gosto das obras espanholas! Mas ainda tenho muito que assistir delas, confesso que foram poucas as produções que assisti, estou gostando, particularmente, das séries também espanholas ><

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  4. Olá Jeniffer,

    Não conhecia o festival Varilux e nem a plataforma Looke, vou procurar saber mais, gostei das indicações.


    Beijos.


    https://devoradordeletras.blogspot.com/

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    1. Oba, que bom que fiz alguém conhecer algo novo >< rs Aproveite!

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